Coluna da Alessandra Velloso

Catástrofe no Rio Grande do Sul: tratamento de dívidas exige responsabilidade

29 jun 2024, 12:00 - atualizado em 28 jun 2024, 10:52
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Em abril, mês anterior às enchentes, 3,6 milhões de pessoas estavam com dívidas atrasadas no Rio Grande do Sul. (Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil)

A crise climática que assola o Rio Grande do Sul, provocando prejuízos de todas as ordens, é também uma crise financeira, que se impõe e aprofunda o endividamento das famílias gaúchas, implicando em sérios riscos os índices de inadimplência no Estado.

Sensíveis às necessidades emergenciais impostas aos atingidos, bancos e empresas de crédito vêm anunciando medidas voltadas ao restabelecimento sustentável da economia e do bem-estar social.

Em resposta ao episódio, o Banco Central interrompeu, por 90 dias, ações de cobrança contra devedores residentes do Rio Grande do Sul. Também em virtude da situação de calamidade pública, empresas vinculadas à Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC) suspenderam, temporariamente, pedidos de negativação para pessoas físicas e jurídicas do estado.

Cabe aqui um reconhecimento ao gesto. Sabemos que a negativação impede oportunidades de retomada ao passo que dificulta o acesso do devedor ao crédito. Preocupa, contudo, que essa “tomada de fôlego” seja entendida como um “passe livre”, afastando possibilidades de repactuação.

Certamente, neste período crítico, famílias precisarão de estímulo para se reerguer, mas devemos estar vigilantes para evitar que esse benefício, mal aproveitado, evolua para uma “bola de neve”. Se for esse o caso, todos sairão perdendo.

A inadimplência pode agravar, e muito, a situação de um Estado que já se encontra em calamidade. Em abril, mês anterior às enchentes, 3,6 milhões de pessoas estavam com dívidas atrasadas no RS, segundo dados da Serasa Experian. Isso significa quatro inadimplentes em cada 10 adultos. Um terço das pendências corresponde a bancos e cartões.

Agora ou depois, as parcelas do carro, da casa própria ou daquele empréstimo deverão ser quitadas. Credores não irão abrir mão dos valores devidos. Como viabilizar, então, esse pagamento de forma sustentável? O desafio está posto.

Ao consumidor, recomenda-se que o respiro seja aproveitado com responsabilidade e planejamento. Especialmente em momentos de crise, a conscientização sobre a importância da gestão das finanças pessoais é primordial. Aos credores, empatia e diálogo.

Mais do que suspender a dívida para cobrança posterior com acúmulo de débito, é preciso oferecer condições acessíveis de pagamento, que não impactem de forma significativa no orçamento das famílias atingidas. Esse esforço conjunto, com vistas à sustentabilidade financeira, pode ser a chave para mitigar impactos negativos a longo prazo.

E o mais importante: no relacionamento entre credor e endividado, a forma amigável é sempre mais proveitosa do que a judicialização.

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