Caso Danone: Ministério da Agricultura diz que restrições aos produtos brasileiros ‘são desproporcionais’
O Ministério da Agricultura e da Pecuária (MAPA) divulgou, no início da tarde desta terça-feira (29), uma nota sobre as declarações da Danone e de outras empresas do setor agroalimentar europeu que optaram por interromper a aquisição de soja do Brasil.
Segundo a pasta, as restrições aos produtos brasileiros são “desproporcionais”. Na nota, o ministério afirma que a posição do Brasil é firme quanto a não aceitar regulamentações que ignorem os avanços ambientais e sociais do país, ao impor restrições excessivas aos produtos brasileiros.
“Entendemos que essa postura influencia negativamente o comportamento de empresas comprometendo o entendimento de consumidores sobre a real dimensão da segurança alimentar baseada na produção sustentável e nas negociações internacionais, que deve ser baseada na confiança mútua e no respeito à soberania e à diversidade de soluções nacionais”, afirma o ministéri.
O MAPA ainda reiterou que a agricultura brasileira alcança “altos padrões” de sustentabilidade, refletindo o compromisso com um “comércio justo” e “ambientalmente responsável”.
“Os números da agropecuária brasileira vêm sendo avaliados sob aspectos de sustentabilidade em fóruns internacionais e comparados com os demais países, demonstram um descolamento positivo em termos de ganhos de produtividade e redução de impactos negativos”, acrescentou.
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A manifestação da pasta acontece após a notícia de que a Danone suspendeu a compra de soja brasileira, optando pela aquisição de matéria-prima da Ásia, conforme divulgado pela Reuters na última sexta-feira (25).
Segundo o diretor da empresa, a medida foi tomada antes de uma regra da União Europeia que exige que as empresas comprovem que não adquirem commodities de áreas desmatadas.
Nos últimos anos, empresas da Nestlé à Unilever têm se preparado para atender à nova regulamentação, que prevê multas de até 20% do faturamento em caso de descumprimento.
O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava previsto para entrar em vigor em 30 de dezembro, mas a Comissão da UE propôs um atraso de 12 meses neste mês.
Posicionamento da Aprosoja
Segundo a Aprosoja Brasil, a decisão demonstra desconhecimento do processo produtivo no Brasil e “um ato discriminatório contra o país e sua soberania”.
“Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando, na verdade, são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil”, afirmou a Aprosoja.
A entidade ainda pontua que o boicote da multinacional francesa já traz prejuízos ao Brasil, mesmo antes da entrada em vigor da legislação anti-desmatamento da União Europeia. Segundo a associação, “afirmações de que o Brasil lidera a destruição da floresta tropical revelam desconhecimento sobre a dinâmica das florestas no país”.
O que diz a Danone
Ao Money Times, a Danone afirmou que segue comprando a soja brasileira “em conformidade com as regulações locais e internacionais”
Confira a nota na íntegra:
“A Danone está há mais de 50 anos no Brasil e investe anualmente em ações que priorizam o apoio e o desenvolvimento de grandes e pequenos produtores locais, incentivando práticas mais sustentáveis em todos os elos da nossa cadeia de fornecimento.
Podemos confirmar que a informação veiculada não procede. A Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais.
A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desmatadas e rastreabilidade.”
*Matéria atualizada às 17h25 (horário de Brasília), do mesmo dia de publicação, para inclusão do posicionamento da Danone