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Casa Branca aponta etanol brasileiro como exemplo de alvo para tarifa recíproca dos EUA

14 fev 2025, 10:56 - atualizado em 14 fev 2025, 10:56
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(Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Ao anunciar a implementação de tarifas comerciais recíprocas contra países que taxam os Estados Unidos, documento distribuído na quinta-feira (14) pela Casa Branca menciona o etanol brasileiro como um dos possíveis alvos das mudanças a serem feitas pelo governo norte-americano.

“Há inúmeros exemplos em que nossos parceiros comerciais não dão tratamento recíproco aos Estados Unidos. A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto os EUA exportaram apenas US$52 milhões em etanol para o Brasil”, diz o memorando distribuído pela Casa Branca.

O documento não especifica quanto e nem que áreas serão especificamente taxadas, e o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que os anúncios específicos serão feitos nos próximos dias, com a prioridade sendo dada a países que têm maior superávit comercial com os Estados Unidos. O Brasil tem um pequeno déficit, de US$250 milhões.

A citação, no entanto, vai ao encontro de preocupações que o setor de etanol brasileiro já tinha manifestado ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que, depois do aço e alumínio, o etanol seria o próximo produto do Brasil tarifado, justamente pela diferença de tarifas citada pelos norte-americanos.

De acordo com uma fonte do governo brasileiro, diferentes ministérios estão levantando dados e analisando impactos das possíveis tarifas a serem aplicadas aos produtos brasileiros, mas nada deve ser feito de imediato. A ordem do presidente Lula é negociar, disse a fonte.

O impacto de taxas no etanol, no entanto, não deve ser significativo. Relatório do banco BTG Pactual  mostra que o Brasil exporta cerca de 6% apenas da sua produção de etanol, de cerca de 35 bilhões de litros por ano, e exporta menos de 1% para os EUA — cerca de 300 milhões de litros.

O relatório mostra ainda que o Brasil importou 109 milhões de etanol de milho dos EUA no ano passado, e que a importação não é vantajosa, com o produto chegando no Brasil com valores finais por litro acima do produzido no país.

A medida, no entanto, agrada aos produtores norte-americanos, que comemoraram a decisão de Trump.

Em nota, a Associação de Combustíveis Renováveis dos Estados Unidos (RFA, na sigla em inglês) agradeceu pela decisão de “restabelecer uma relação justa e recíproca no comércio de etanol com o Brasil”.

“Por quase uma década gastamos tempo e recursos preciosos lutando contra um regime tarifário injusto e injustificado imposto pelo governo brasileiro às importações de etanol dos EUA”, disse o presidente e CEO da RFA, Geoff Cooper, em nota distribuída pela associação.

No Brasil, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que possíveis tarifas dos EUA sobre o etanol brasileiro não seriam racionais e que, para ser justos, os EUA deveriam zerar alíquotas de importação para o açúcar brasileiro.

Já o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, manifestou preocupação com os efeitos da medida que, segundo ele, “é uma visão equivocada sobre reciprocidade”.

O executivo acrescentou que a demanda dos EUA por etanol do Brasil se deve à pegada de carbono brasileira “muito menor” do que a norte-americana, e disse que vai observar como os Estados dos EUA comprometidos com questões climáticas irão se comportar, caso a medida venha a ser efetivada.

“Estados como a Califórnia, que tem metas desafiadoras de descarbonização, vão ter dificuldades de cumprir as suas metas”, disse Gussi. “O americano vai pagar mais caro para poder fazer a mesma descarbonização porque, em termos de etanol, eles não têm alternativas para oferecer essa mesma descarbonização.”

reuters@moneytimes.com.br