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‘Carteira Lula’ desaba 11% e perde feio do Ibovespa; o que fazer agora?

17 nov 2023, 12:53 - atualizado em 19 nov 2023, 13:21
B3, Ibovespa, Boi magro, Queda, Ações
A pedido do Money Times, o consultor independente Einar Riveiro realizou levantamento sobre o possível retorno da carteira teórica em comparação com o Ibovespa (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

A eleição para a presidência no ano passado não foi só polarizada nas urnas. Invadiu também o mercado financeiro. Muitas casas de análises dividiram as ações da bolsa em uma cesta ‘Lula‘, composta por papéis ligados ao consumo, e ‘Bolsonaro‘, com ações de estatais. A ideia era dar uma noção ao investidor sobre papéis que seriam beneficiados com a eleição de um ou de outro.

Com Lula eleito, algumas previsões se confirmaram e outras nem tanto. Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), por exemplo, subiram mais de 50%. Previsões mais pessimistas, como o fim dos dividendos e uso político das estatais, não se concretizaram. Por outro lado, papéis de varejistas ligadas ao consumo, como Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3), ficaram bem aquém.

A pedido do Money Times, o consultor independente Einar Riveiro realizou levantamento sobre o possível retorno da carteira teórica em comparação com o Ibovespa. Foram consideradas as ações PRIO (PRIO3), Bradesco (BBDC4), MRV (MRVE3), Eletrobras (ELET6), Yduqs (YDUQ3), Magazine Luiza e Casas Bahia, papéis apontados à época como beneficiários do governo Lula.

Até o dia 16 de novembro, a carteira acumulava perda de 11%, contra elevação de 8,82% do Ibovespa no mesmo período. Veja a seguir a tabela:

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Preço em 28/10/2022 Preço em 16/11/2023 Variação
PRIO R$ 34,02 R$ 45.89 34,89%
Bradesco R$ 18.17 R$ 15.57 -14%
MRV R$ 9,79 R$ 10.71 9.30%
Eletrobras R$ 48,11 R$ 44.50 -7.50%
Yduqs R$ 15.12 R$ 20.62 46%
Magalu R$ 4.38 R$ 2.22 -49%
Casas Bahia R$ 3.04 R$ 0.58 -80.92%

Cenário volátil

Os analistas que conversaram com o Money Times destacam a grande montanha-russa que foi o mercado de ações nos últimos 11 meses. Rafael Passos, da Ajax Asset, lembra que o ano começou com o foco no fiscal e a espera do arcabouço.

“As pautas no Congresso estavam congeladas, não tínhamos arcabouço fiscal. Esse ruído, principalmente aqui no Brasil, afetou muito a performance dos ativos”, descreve. Porém, bastou o governo apresentar a proposta e a reforma tributária para a bolsa voltar andar. Novos riscos, agora no Federal Reserve, contudo, voltaram a prejudicar o mercado.

Bruno Komura, da Potenza Investimentos, recorda que muitas ações da carteira são cíclicas, ou seja, tem o lucro correlacionado com a economia.

“Somente em novembro que começamos a ver uma melhora significativa com a aprovação da reforma tributária no Senado e um otimismo maior em relação à política monetária americana. No final, algumas ações tiveram causas micro (específica das empresas), mas a maioria de movimento se deve a fatores macros”, argumenta.

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E as medidas do governo?

Entre os papéis da carteira, MRV e Yduqs foram exemplos de ações que se beneficiaram dos programas do governo, como o previsto por analistas, além de surfarem na queda dos juros.

O programa Minha Casa, Minha Vida, marca das gestões petistas, foi turbinado, com aumento do limite de financiamento, seja de teto e no piso, para estimular as faixas 1, 2 e 3, o que ajuda construtoras de baixa renda.

“O setor de construção vai continuar melhorando, com a queda dos juros”, explica Passos.

Apesar disso, a empresa registrou prejuízo consolidado de R$ 139,7 milhões, revertendo lucro de R$ 8 milhões no mesmo período de 2022.

O analista da Ativa Investimentos, Pedro Serra, comenta que os resultados ficaram abaixo do esperado pela casa de análises.

“O resultado mostra uma recuperação mais lenta das atividades. Como também uma demanda ainda reprimida com um cenário [econômico] desafiador”, diz.

No caso da Yduqs, cursos de medicina e o Fies, programa de financiamento estudantil, entraram no radar.

“O mercado já havia penalizado demasiadamente o setor desde a pandemia, que resultou no aumento da competição no EAD e redução das aulas presenciais (que tem maior margem). Esperamos que o próximo ciclo de matrículas (início de 2024) seja melhor e com isso, tenhamos uma recuperação robusta do setor”, coloca Komura.

Casas Bahia e Magazine Luiza, casos a parte

No caso do Magazine Luiza e Casas Bahia a situação é diferente. A Casas Bahia, por exemplo, precisou correr atrás de um programa de reestruturação, em meio a uma oferta de ações frustrada.

“O varejo focado em eletrodomésticos sofreram muito porque você teve uma demanda fraca, sofrendo com o capital de giros, estoque bastante altos, que reflete esse cenário macro mais desafiador. Americanas também borrou esses dois papéis. Juros altos prejudica essas duas companhais”, argumenta Passos.

Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, lembra que Magazine Luíza e Casas Bahia são duas empresas que já vinham entregando resultados muito ruins e com margens espremidas, em meio ao ciclo de alta de juros,

“Tudo fica muito mais difícil, e somando com o evento da Americanas, com aquele rombo que foi descoberto no balanço, e agora o erro contábil no Magazine Luiza, enquanto a Casas Bahia tira um esqueleto do armário com a questão do passivo trabalhista, podemos então dizer que as empresas varejistas estão sendo impactadas tanto por problemas internos, como também por uma questão cíclica macro”, descreve.

No caso das varejistas como MagaLu e Casa Bahia, o ambiente competitivo continuou altamente desafiador por conta da entrada das companhias asiáticas, comenta Komura.

“Mesmo com o problema da Americanas (AMER3), não vimos recuperação significativa do market share (participação de mercado). O take rate (% do valor transacionado que se torna receita para as varejistas) não apresentou melhora significativa, que apontasse que o pior momento da indústria passou”, discorre.

Ele lembra ainda que as companhias continuam com elevado nível de queima de caixa, o que justificou aumento de capital pelas Casas Bahia e um possível aumento de capital pela MagaLu no curto prazo.

“Dado o alto nível de endividamento das companhias, achamos que o benefício da melhora do ciclo econômico deve demorar um pouco (as empresas vão precisar endereçar a estrutura de capital antes de pensar em expansão)”, completa.

Eletrobras: Analistas pontuam que ação está atraentes a esses preços (Imagem: Eletrobras)

Eletrobras barata, Bradesco decepção?

Sobre os papéis da Eletrobras, as ações sofreram com questionamentos do governo com o texto de privatização, aprovado ainda no Governo Bolsonaro. A União detém 43% das ações ordinárias da elétrica, mas a empresa está sujeita à proibição de que acionista ou grupo de acionistas exerçam votos em número superior a 10%.

Além disso, os preços da energia também atrapalharam o desempenho. No entanto, analistas pontuam que ação está atraentes a esses preços.

Já o Bradesco, banco com grande exposição às classes mais baixas, e por isso apontado como vencedor em um governo Lula, ainda não entregou a recuperação que o mercado esperava.

“Tem a piora da carteira de crédito, que levou a um patamar de ROE (return on equity) menor. Primeiro precisamos ver a situação da lucratividade do banco se estabilizar para depois pensar em recuperação. As ações sofreram muito por conta disso e foi o movimento foi agravado pelo macro”, explica o analista da Potenza.

Na visão de Cunha, o Bradesco, de todos os bancos, é o que está performando pior.

“Ele tem uma carteira grande de crédito de pequenas e médias empresas e a inadimplência está alta, está apanhando muito e por isso está começando a ficar para trás em termos de rentabilidade. Quando começou o ano, se esperava um outro comportamento dos juros futuro”, recorda.

O que fazer com a carteira Lula?

Analistas dizem que o momento é de investir em empresas maduras e com bom histórico, sem ‘inventar’ muito.

“Para o curto prazo, acho que podemos ter um bom movimento por conta do cenário macro e por isso achamos que seria uma boa ideia segurar os papeis”, explica Komura.

Já pensando no médio/longo prazo, é preciso avaliar caso a caso porque ainda há incertezas – “no Brasil temos dúvidas em relação ao fiscal e no exterior precisamos ver se haverá uma recessão mais dura ou leve”.

Além disso, o analista diz que o setor de educação deve apresentar uma boa performance conforme as matrículas venham bem.

“No caso de Eletrobras, os múltiplos das ações estão baixo e oferecem uma boa oportunidade, dado que no preço atual, as ações negociam a uma TIR (taxa interna de retorno) real de 15%. Bradesco deve se recuperar também, mas achamos que levará um tempo para vermos isso se materializando, poderia ser uma tese para se pensar em 2024”, completa.

Já Cunha cita ações que pagam bons dividendos e empresas mais maduras e menos voláteis.

“Quando analisamos essas empresas, que estão passando por momentos mais difíceis, elas podem ser apostas no sentido de que vão conseguir melhorar o resultado financeiro delas para os próximos anos. Talvez elas possam subir muito, mas o investidor precisa estar com o estômago mais preparado”, completa.

No caso do investidor que já estava com ações que perderam 80% e 90%, é preciso avaliar se realmente vale a pena vender, uma vez que agora há espaço para valorização.

“Mas são empresas que ainda vão passar por momentos difíceis, se for para colocar dinheiro novo, temos empresas mais maduras e mais bem estabelecidas para ficar segurando a carteira”, completa.