Economia

Carro popular é uma ilusão: Entenda como medida de redução dos preços pode pressionar a inflação

26 maio 2023, 10:35 - atualizado em 26 maio 2023, 10:35
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O plano inicial era reduzir os valores de carros compactos com motor 1.0 para uma faixa entre R$ 50 mil e R$ 60 mil. (Imagem: Shutterstock)

Ontem, o ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, anunciou o plano do governo para retomar os carros populares e reduzir os preços dos automóveis.

A principal medida é reduzir o IPI e PIS/Cofins dos carros de até R$ 120 mil. Com isso, a redução no preço final ficará entre 1,5% até 10,96%.

Três fatores irão determinar quais modelos terão o benefício: carros mais baratão terão um desconto maior, assim como os modelos com maior o percentual de peças e acessórios produzidos no Brasil. Também ficam mais baratos aqueles com a menor quantia de emissão de poluentes.

O plano inicial era reduzir os valores de carros compactos com motor 1.0 para uma faixa entre R$ 50 mil e R$ 60 mil. Com a medida anunciada, os veículos mais baratos hoje no país, o Renault Kwid e o Fiat Mobi, ambos vendidos por R$ 68.990 passariam para R$ 61.429.

Carros populares x inflação

No entanto, os economistas alertam que o plano do governo pode ser um tiro no pé do combate à inflação. Na teoria, a queda nos preços influenciariam positivamente no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No entanto, o cenário pode ser outro.

Para Rafael Passos, analista da Ajax Capital, os recentes anúncios reforçam as dúvidas em relação ao compromisso do Governo com o fiscal.

“Por um lado, o Governo tenta convencer comprometimento com arcabouço, sendo um de seus pilares esse aumento de impostos. Mais: esses subsídios deixam ainda mais complexo o sistema tributário com medidas para determinados setores da economia, enquanto Congresso debate uma reforma mais profunda e ampla de impostos indiretos que impactam negativamente a atividade industrial”, afirma.

Além disso, essas são medidas de estímulo à demanda, em um cenário de revisão para cima das expectativas de crescimento, sendo que as vendas de veículos mostram um desempenho de 18,7% acima de 2021 e superam o volume vendido no último bimestre antes da pandemia. Do lado da produção, a recente normalização nas cadeias globais permitiu uma retomada mais célere, com os estoques de automóveis retornando à sua média histórica.

Nos cálculos de Étore Sanches, economista-chefe da Ativa Investimentos, o impacto efetivo sobre a inflação não deverá superar os -10bps.

“Reiteramos nossa estimativa de impacto máximo de 10bps à medida que apesar de a redução máxima anunciada ser superior a aventada por nós, existem diversos limitadores metodológicos que conterão o potencial impacto na inflação”, destaca.

A metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não diz respeito a valores, mas sim a representatividade de vendas. De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), cerca de 27% dos 30 veículos mais vendidos em 2023, considerando preço de entrada, são superiores a R$120 mil.

Segundo Étore, o impacto máximo possível, se todos os veículos tivessem -10,9% de desconto, seria de 7,6%. Contudo, não são todos os veículos com preço abaixo de R$120 mil que terão desconto de 10,9%.

Além disso, o Ministério da Fazenda vai mensurar o impacto da medida antes de a medida entrar em vigor. Por isso, espera-se que o despacho ocorra apenas no meio de junho, com duração de 12 meses, o que gerará uma compensação de mesma magnitude ao término da ação.

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