Coluna da Tatiana Sendin

Carreira: Dinheiro é o que importa para bons profissionais, no fim das contas

27 dez 2022, 17:06 - atualizado em 27 dez 2022, 17:06
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“A última onda de demissão nas startups e gigantes de tecnologia aumentou a insegurança das pessoas e reforçou esse sentimento de que é necessário fazer dinheiro e assegurar o emprego’, explica Tatiana Sendin, uma das autoras da pesquisa (Imagem: Shutterstock/askarim)

Propósito, carreira, desenvolvimento? Esqueça tudo isso. O principal motivo para as pessoas permanecerem em seu emprego é dinheiro. Essa é também a razão número 1 que as fariam pedir demissão: 30% sairiam da empresa atual por uma proposta com melhor remuneração. A descoberta vem da pesquisa Momento Profissional, realizada pela Think Work com apoio do Money Times.

O salário aparece ainda entre os três principais fatores que atraíram os funcionários para trabalhar onde estão, à frente de coisas como: compartilhar os mesmos valores da companhia, bom clima organizacional e satisfação com o que faz.

Quais são os três principais motivos que fazem você permanecer na empresa atual? % respostas
Remuneração fixa/salário 25%
Estabilidade no emprego 24%
Oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento 24%
Flexibilidade de horário 20%
Possibilidade de trabalhar de forma remota ou híbrida 20%
Compartilhar dos mesmos valores que a empresa 19%
Benefícios oferecidos pela empresa 14%
Cultura organizacional 12%
Possibilidades de crescimento de carreira 12%
Localização 11%
Pesquisa Think Work | Momento Profissional, de novembro de 2022

 

Quais são os três principais fatores que te atraíram para trabalhar na sua empresa atual? % respostas
Oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento 30%
Compartilhar dos mesmos valores que a empresa 23%
Remuneração fixa/salário 22%
Necessidade de trabalhar 19%
Benefícios oferecidos pela empresa 19%
Possibilidades de carreira 17%
Estabilidade no emprego 13%
Propósito da empresa 13%
Possibilidade de trabalhar de forma remota ou híbrida 12%
Flexibilidade de horário 12%

Propósito da empresa, imagem da marca e dos produtos, e posicionamento frente a questões sociais e ambientais também têm menos peso do que a remuneração. Podemos fazer duas leituras desse cenário. A primeira – e mais óbvia – é o medo da crise. Isso fica claro quando analisamos o segundo fator de permanência dos profissionais no emprego atual: quase um quarto dos respondentes (25%) cita a estabilidade.

A sombra da recessão tem pairado sobre o ambiente corporativo. Praticamente 10 de cada 10 CEOs (98%) esperam uma desaceleração econômica nos Estados Unidos nos próximos 12 a 18 meses, com impacto em outros países.

Globalmente, com inflação e juros altos, executivos buscam formas de preservar o caixa e reduzir custos – o que, para os funcionários, significa contratações congeladas ou cortes. A última onda de demissão nas startups e gigantes de tecnologia aumentou a insegurança das pessoas e reforçou esse sentimento de que é necessário fazer dinheiro e assegurar o emprego.

Bons salários e Geração Z: tudo a ver

Contudo, além do medo da crise, podemos estar vendo uma mudança de perfil geracional. Os representantes da geração Z (os que têm de 15 a 25 anos) se sentiriam menos seguros financeiramente do que os millennials, a geração anterior, segundo um levantamento da Deloitte.

A consultoria revela que os mais jovens se preocupam com o custo de vida (29%) e com o desemprego (20%). Para ajudar nas finanças pessoais, 43% dos Zs (contra 33% dos millennials) têm ou planejam ter um segundo emprego.

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“O que hoje motiva as pessoas – dinheiro e estabilidade – é insuficiente para gerar os laços profundos que as companhias buscam”, observa Sendin (Imagem: Pixabay/ luxstorm)

Fica mais fácil de executar essa ideia com o trabalho remoto. Nos Estados Unidos, a quantidade de funcionários que têm atuado em dois empregos ao mesmo tempo cresceu tanto que ganhou um termo: “multi-jobbers”.

Além da incerteza com as finanças pessoais e o emprego, a segunda leitura sobre a importância dada ao salário é mais profunda e está ligada à lei de esforço e recompensa – um conceito criado no início dos anos 1990 por Johannes Siegrist, professor do departamento de sociologia médica e diretor da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha, e aplicado até hoje internacionalmente.

Na sociedade moderna, a pressão e a competição no trabalho são maiores (mais esforço), ao mesmo tempo em que a segurança e a remuneração têm caído gradativamente (menos recompensa). Essa falta de reciprocidade entre o esforço aplicado e o retorno recebido – que inclui dinheiro, promoção, estabilidade e consideração – teria levado os profissionais a buscarem um melhor equilíbrio nessa relação, dando mais peso ao salário, como mostra a pesquisa da Think Work.

O achado está em linha com um estudo do Gartner, que descobriu que menos de um terço dos funcionários consideram estar recebendo um salário justo.

Carreira: Falta equilíbrio entre esforço e recompensa

É como se as pessoas tivessem percebido que, por mais que se esforcem, passem horas conectadas no zoom e estiquem o expediente para tentar dar conta da lista de tarefas, nunca será o suficiente para a organização – que continuará exigindo mais dedicação, mais horas, mais comprometimento. No primeiro sinal de crise, pessoas serão demitidas e benefícios cortados, tornando as condições ainda piores.

Essa deterioração do ambiente de trabalho – ou, como defende Siegrist, o desequilíbrio entre esforço e recompensa – tem levado ao crescimento de casos de doenças emocionais. Depressão já está entre os três principais problemas de saúde no trabalho, com depressão e ansiedade juntas sendo responsáveis por 50% das doenças ocupacionais. No Reino Unido, 13% do absenteísmo por doença está diretamente ligado à saúde mental.

Na pesquisa Momento Profissional, 30% dos respondentes afirmam que sairiam da empresa atual por falta de qualidade de vida – o mesmo peso dado ao salário. Deixar o emprego por saúde e dinheiro, hoje, aparece à frente de itens como “pouca possibilidade de carreira” ou “problemas de relacionamento com os gestores” – tradicionalmente os principais motivos que levavam ao pedido de demissão.

Indique até três motivos que fariam você sair da empresa atual: % respostas
Proposta com melhor remuneração 30%
Falta de qualidade de vida 30%
Clima organizacional ruim 26%
Baixa percepção de respeito no tratamento às pessoas 21%
Falta de oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento 18%
Proposta para um cargo mais alto 16%
Baixa percepção de justiça nas decisões de trabalho 15%
Problemas de relacionamento com gestores 15%
Poucas possibilidades de carreira 14%
Falta de alinhamento com a cultura organizacional 13%
Pesquisa Think Work | Momento Profissional, de novembro de 2022

Para as organizações, é uma equação difícil de resolver. Com uma possível crise pela frente, elas não podem aumentar os salários. Ao mesmo tempo, precisam melhorar os índices de retenção, produtividade, motivação e engajamento. Mas o que hoje motiva as pessoas – dinheiro e estabilidade – é insuficiente para gerar os laços profundos que as companhias buscam.

As relações de trabalho estão mudando. E a conexão entre empregados e empregadores está cada vez mais superficial. Não à toa, mais de dois quintos (44%) dos funcionários pretendem mudar de emprego nos próximos dois anos. Apesar de 57% dos 200 participantes da pesquisa se considerarem felizes no serviço na maior parte do tempo ou todos os dias, 77% estão ativamente procurando outro emprego ou abertos a receber contatos de recrutadores.

Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.

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