Caro e arriscado: Veja por que os analistas não recomendam o IPO da C&A
O IPO da C&A não animou as principais casas de research que viram uma oferta muito benéfica ao controlador e resultados operacionais fracos. Apenas a Eleven recomenda compra, desde que saia até o piso da faixa de preços. Suno, Levante, Nord e Capital Research sugerem que seus clientes fiquem de fora da oferta.
A varejista de moda rápida apresentou um prospecto para seu IPO que destina cerca de 94% dos recursos levantados direto para seu controlador.
Das 82,2 milhões de ações que serão entregues na oferta base, 32,9 milhões, ou 40%, será de oferta secundária, quando o próprio acionista vende seus papéis para embolsar lucro. Dos 60% restantes, quase a totalidade será utilizada para saldar dívidas da C&A contraídas com seu controlador.
Ao final, apenas R$ 86 milhões de uma oferta de R$ 1,5 bilhão será utilizado para expansão e abertura de novas lojas.
“Chama a atenção como ponto negativo que a maior parte dos recursos vai para o controlador”, avalia Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research, que recomenda que os investidores fiquem de fora do IPO.
Na mesma linha, Ernani Reis, analista da Capital Research concorda que a oferta não é atraente, pois foco principal não é expansão. A casa não recomenda participações em ofertas iniciais.
Operacional fraco
Além da destinação dos recursos, a área operacional da C&A também é colocada em xeque pelos analistas.
“Existem empresas com uma melhor capacidade de execução e crescimento como Lojas Renner (LREN3) e Guararapes, que possui a rede Riachuelo (GUAR3)”, escreveu Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante.
A C&A registrou um número estável de lojas nos últimos quatro anos, com um crescimento de receita líquida de 8,1% entre 2016 e 2018. Em levantamento feito pela Eleven Reseach, a companhia fica atrás dos 19,7% da Riachuelo e os 28,5% da Renner, benchmark do setor, em igual período.
Nas vendas em mesmas lojas, um indicador importante para o varejo, a C&A também mostra sinais de que a recuperação ainda não começou. As vendas subiram apenas 2,5% no ano passado, contra 2017, e 2,8% no primeiro semestre de 2019, ante igual período de 2018.
A margem da C&A também está bem atrás das duas líderes do setor. Com 49% de margem bruta, a varejista perde para os 53% da Riachuelo e 57% da Renner.
“Não tem clareza de qual a estratégia de crescimento e abertura de loja. Está tudo vago. Não é igual a Renner que deixa tudo bastante claro”, avalia Wainberg da Suno.
A área digital da C&A também segue atrás da concorrência. Apenas 2,4% das compras vêm do online. O click-and-collect, quando o cliente compra online e retira na loja, o que aumenta as chances de mais vendas na loja física, fica na casa dos 17%, comparado à 25% da Guararapes e 27% da Renner.
“Ou seja, o futuro é digital, mas o presente ainda não é”, avalia Rafael Rafazi da Nord Reserch. A casa também recomenda que os clientes fujam do IPO da C&A. “Não caia nas armadilhas do bull market”, completou.
IPO caro para o varejo
No valuation da Levante, Eduardo Guimarães calcula um preço/lucro de 20,1x em 2020 se o IPO sair no ponto médio de R$ 18,25 por ação. “Múltiplo elevado se comparado às empresas Lojas Renner (26,5x) e Guararapes (17,0x)”.
Nas contas da Eleven, o preço-alvo fica em R$ 22,10, upside de 34% no piso de R$ 16,50 da faixa de preços. “Consideramos a entrada no IPO atraente apenas na faixa inferior do intervalo de, em função do nível de risco envolvido”, escreveu a analista Giovana Scottini.
Calendário do IPO da C&A
Para quem quiser participar, termina nesta quarta-feira, 23, o período de reserva das ações CEAB3. O investimento mínimo é de R$ 3 mil e o máximo de R$ 1 milhão. Não há lock-up ou preferência de distribuição no varejo. Veja aqui o resumo do IPO da C&A.
Anote as principais datas na sua agenda:
14 de outubro – Início do período de reserva
23 de outubro – Final do período de reserva
24 de outubro – Precificação do IPO
28 de outubro – Início de negociação na B3.
A oferta de ações da C&A será comandada pelo Morgan Stanley, que também será o agente estabilizador. Coordenam a oferta, Bradesco BBI, BTG Pactual, Citigroup, Santander e XP.