Carnes podres e ações também? Goldman Sachs lista 4 preocupações com JBS e BRF
A Operação Carne Fraca, a maior já realizada pela Polícia Federal, desmascarou um impressionante esquema de adulteração e irregularidades no processamento e comercialização de carnes no país com um impacto direto na JBS (Seara, Swift, Friboi e Vigor) e BRF (Sadia, Perdigão, Batavo e Elegê).
A Justiça Federal no Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas. Os frigoríficos envolvidos no esquema criminoso “maquiavam” carnes vencidas com ácido ascórbico e as reembalavam para conseguir vendê-las. Além disso, algumas eram misturadas com papelão ou vendidas com salmonela.
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O efeito sobre a as ações na Bolsa hoje é enorme. A JBS perde mais de 10% e a BRF, 8%. Em um relatório obtido pelo Money Times, o Goldman Sachs vê quatro principais riscos:
1 – Efeito sobre a percepção de qualidade do consumidor (o maior risco)
Os analistas Luca Cipiccia e Joao Barrieu avaliam que, embora as duas empresas tenham informado que irão colaborar com as investigações, a percepção do consumidor sobre o risco sanitário pode ser ampliado pela cobertura da mídia. “Observamos que, hoje, a visibilidade recebida por esta investigação é muito alta, com várias reportagens (“Globo”) destacando em particular a JBS e a BRF, como as maiores empresas do setor. Vemos um risco em algumas marcas e produtos serem associados mais diretamente a essas questões e sofrer, pelo menos temporariamente, de uma súbita queda na demanda até que a confiança e a clareza retornem”.
2 – Exportações
O Goldman Sachs ressalta que as investigações falam sobre certificações erradas emitidas para produtos destinados à exportação. “Potencialmente, se houver preocupação com tais práticas e com a segurança alimentar, poderemos ver algumas restrições temporárias de alguns países importadores do Brasil. Observamos que as exportações respondem por aproximadamente 50% das receitas da BRF e Seara da JBS”.
3 – Cadeia de valor complexa e alavancagem operacional aumento risco de curto prazo
Independentemente do resultado do inquérito, o Goldman acredita que a indústria tem uma cadeia de valor longa e complexa com altos custos fixos e alavancagem operacional. “Consequentemente, no passado, mesmo interrupções temporárias, declínios de volume e gargalos operacionais criaram impactos desproporcionais na rentabilidade”, diz o banco.
Esta questão surge, pontuam os analistas, justamente quando tanto a BRF como a Seara sofrem com a fraca demanda doméstica e maiores custos de insumos ao longo de 2016 e apresentavam moderado otimismo para uma recuperação em 2017 à medida que o ambiente macroeconômico do Brasil melhora gradualmente e os custos caem.
4 – Exposição é maior para BRF vs. JBS.
Ambas as ações estão em queda hoje em uma magnitude parecida e o Goldman espera que alguma pressão continue até que se tenha mais clareza e sobe a consequência em potencial da investigação. “Observamos, entretanto, que, em um nível consolidado, a BRF está mais exposta, já que praticamente a totalidade do seu negócio é relacionado ao frango e o Brasil representa 50% e a maioria das exportações é proveniente do Brasil. Para a JBS, em um nível consolidado, a Seara responde por 11% da receita total e seus negócios internacionais (EUA, Europa, Austrália etc.) representam a maior parte da sua carteira. Observamos, no entanto, que Seara foi incluída na estrutura divisional da JBS Food International no planejado IPO da unidade”.
O Goldman Sachs mantém a recomendação neutra com um preço-alvo de R$ 13,30 para 12 meses para a JBS e de venda para a BRF com um preço-alvo de R$ 42,40.