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Carne do Brasil ganha espaço nos EUA com demanda chinesa pelo produto americano

01 jul 2021, 10:46 - atualizado em 01 jul 2021, 10:46
BOI
O cenário já beneficia gigantes do setor como JBS, Marfrig e Minerva Foods, visto que todas possuem plantas aprovadas para embarcar aos EUA (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Relações comerciais conturbadas entre China e Austrália fizeram com que os chineses passassem a buscar mais carne bovina no mercado norte-americano, abrindo espaço para o Brasil elevar suas exportações da proteína aos EUA, o que gera um movimento por habilitações de novos frigoríficos brasileiros pelo país da América do Norte.

O cenário já beneficia gigantes do setor como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva Foods (BEEF3), visto que todas possuem plantas aprovadas para embarcar aos EUA.

Mas essas empresas têm se movimentado de olho na possibilidade de abocanhar maior fatia no país norte-americano.

Os EUA alcançaram, em maio, a terceira colocação entre os principais compradores de carne bovina do Brasil, conforme dados da associação de exportadoras Abiec, com uma disparada de 186% no volume adquirido, para 10,73 mil toneladas, avançando cinco posições ante o mesmo mês de 2020.

“A JBS tem 12 unidades habilitadas para exportar para os EUA e está sempre atenta a possibilidades de ampliação”, disse a companhia em nota à Reuters.

A Marfrig recebeu, na semana passada, uma recomendação do Ministério da Agricultura para que sua unidade de Chupinguaia (RO) passe a exportar para o mercado norte-americano. Agora, esta planta e a de Alegrete (RS), recomendada pelas autoridades do ministério em maio, aguardam aprovação das autoridades americanas para confirmar a habilitação.

A Marfrig disse, por meio da assessoria de imprensa, que já embarca a proteína in natura e processada por meio de quatro unidades: Bagé e São Gabriel, no Rio Grande do Sul, Bataguassu (MS) e Promissão (SP).

“A JBS tem 12 unidades habilitadas para exportar para os EUA e está sempre atenta a possibilidades de ampliação”, disse a companhia em nota à Reuters (Imagem: REUTERS/Shannon Stapleton)

Também na última semana, a Minerva anunciou que sua divisão de carnes processadas, a Minerva Fine Foods, foi habilitada para exportar produtos cozidos e congelados aos Estados Unidos pela planta de Barretos (SP), única operação de processados da companhia no Brasil.

A unidade se juntou a outras cinco plantas da Minerva Foods que podem embarcar a proteína bovina aos norte-americanos, sendo quatro para envio de carne in natura e uma que exporta o produto enlatado.

Embora as empresas estejam buscando ampliar o leque de possibilidades para exportar aos EUA, os embarques já estão fortes com as atuais habilitações.

No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, os frigoríficos brasileiros aumentaram em 165,6% o volume da proteína exportada aos norte-americanos, para 33,8 mil toneladas, segundo a Abiec.

Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), por sua vez, mostram que o país vendeu 48.292 toneladas de carne bovina para a China de janeiro a abril, um extremo avanço ante o volume de 3.255 toneladas enviado no mesmo período de 2020.

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Jogo entre mercados

“Esperamos que os EUA direcionem parte da sua carne para a China para compensar a redução de exportação da Austrália para aquele país. Com isso, o Brasil acaba ganhando espaço no mercado americano”, disse a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.

Ela afirmou que a conjuntura é promissora para a proteína bovina e também pode beneficiar as exportações brasileiras de carne suína aos EUA. Apenas a área de aves não seria igualmente favorecida por falta de unidades habilitadas.

O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, disse que houve um conflito político entre China e Austrália, que motivou o recuo das compras chinesas daquele mercado.

A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, afirmou que a conjuntura é promissora para a proteína bovina e também pode beneficiar as exportações brasileiras de carne suína aos EUA (Imagem: Pixabay/Elsemargriet)

“Os chineses saíram comprando carne em outros mercados e os EUA saíram favorecidos com essa escolha, mesmo porque o rebanho australiano é muito parecido com o americano, a raça é semelhante. Foi uma substituição zootecnicamente esperada”, explicou Torres.

Ele ainda ressaltou que como os EUA são, historicamente, grandes exportadores e importadores de muitos produtos, trazer carne de fora para complementar a oferta local é uma estratégia que também condiz com o perfil de negociação dos americanos.

“Mas se não houvesse esse aquecimento no intercâmbio comercial, com aumento de vendas dos EUA para a China, provavelmente o Brasil ainda estaria patinando no volume para os EUA”, destacou Torres, lembrando que em anos anteriores os frigoríficos brasileiros já sofreram com barreiras sanitárias impostas pelos americanos.

“Acho que agora o Brasil tende a consolidar sua posição como fornecedor de carne para os Estados Unidos. O tipo de filé é diferente, mas a nossa carne serve para várias finalidades, como hambúrguer… O Brasil deve, nesse jogo internacional, melhorar seu desempenho.”

Sobre o avanço dos EUA no ranking dos principais destinos da carne do Brasil em maio –ficando atrás apenas de China e Hong Kong–, o diretor da Scot afirmou que também contribuiu para isso o recuo nas compras de outros países importadores em função da pandemia da Covid-19.

Apesar do forte crescimento para os EUA, os embarques ainda são relativamente pequenos perto das exportações brasileiras aos chineses, que somaram mais de 300 mil toneladas de janeiro a maio.