Capitalismo explica maior vitória climática global
O presidente da maior empresa privada de carvão do mundo sentou-se diante de um grupo de legisladores dos Estados Unidos que queriam saber se o combustível tinha futuro. Ele não hesitou. “O carvão”, disse, “é o futuro”.
Isso foi em 2010. O carvão respondia por quase metade da energia nos EUA, segundo depoimento do executivo, e estava crescendo a um ritmo 1,5 vez mais rápido do que o petróleo, gás natural, energia nuclear e renováveis combinados. A demanda global subiu 53% em duas décadas. E a energia renovável? Não era uma opção. “As energias eólica e solar representam apenas 1% do mix energético atual dos EUA”, disse Gregory Boyce, na época presidente da Peabody Energy, aos membros do Congresso. “Não é realista sugerir que as energias renováveis possam substituir os combustíveis convencionais de carga de base.”
Não é bem assim. Em abril, pela primeira vez na história, o fornecimento de energia renovável superou a do carvão na rede dos EUA: o sinal mais evidente de que as energias solar e eólica agora podem enfrentar os combustíveis fósseis. Em dois terços do mundo, essas energias se tornaram as formas mais baratas de eletricidade.
As fontes solar e eólica responderão por metade da energia global até 2050, com base nas previsões da BloombergNEF. A essa altura, o carvão e a energia nuclear terão praticamente desaparecido nos EUA, expulsos por fontes renováveis mais baratas e gás natural.
O sucesso do mercado de energia renovável marca a maior vitória na luta contra o aquecimento global. As fontes solar e eólica estão proliferando não por causa de benfeitores morais, mas porque agora são a parte mais rentável dos negócios de energia na maior parte do mundo. Um setor que antes dependia de pesados subsídios e era sustentado por mandatos de governos agora está cada vez mais independente.
No esforço para atrasar as mudanças climáticas, o setor de energia é importante.
Tradicionalmente, a geração de eletricidade é a maior fonte mundial de emissões de gases de efeito estufa. Nos EUA, pela primeira vez desde a década de 1970, esse não é mais o caso. Desde 2016, as usinas americanas emitem menos dióxido de carbono do que o setor de transporte do país, onde o petróleo continua a dominar. A mudança deve muito ao gás natural barato e de combustão mais limpa, mas os parques eólicos e solares desempenham um papel cada vez mais importante.
Os recursos solares, eólicos e hidrelétricos combinados geram mais de 25% da eletricidade do mundo. Na China e na Índia, essa participação ultrapassará 60% até 2050, segundo estimativas da BNEF. Na Europa, essa parcela será de 90%.
A energia renovável não salvará o mundo sozinha. A geração de energia é responsável por cerca 25% das emissões de gases de efeito estufa lançadas na atmosfera nos EUA. O restante vem principalmente do transporte, fábricas, agricultura, aquecimento e refrigeração de residências e empresas.
Esses setores precisarão acompanhar os avanços tecnológicos e a manufatura mais eficiente, que reduziram os custos de energia solar e eólica. Os preços das baterias caíram 84% em menos de uma década. Peças mais baratas tornaram a construção de instalações solares e eólicas mais econômica do que as usinas de carvão e gás em dois terços do mundo.
Nos EUA, o gás natural permanece o rei da matriz energética, respondendo por cerca de 40% da eletricidade do país. Mas a participação das energias renováveis está subindo rapidamente, chegando a 25% no início do ano.
No entanto, o gás é cada vez mais atacado. Berkeley, na Califórnia, tornou-se a primeira cidade dos Estados Unidos a proibir o gás em novos imóveis e empresas no início do ano. Legisladores de Seattle a San José avaliam proibições. O governo britânico propôs uma proibição semelhante.
Em regiões do mundo em desenvolvimento, o carvão ainda domina. A China abriga a maior capacidade de energia hidrelétrica, eólica e solar, mas continua sendo a maior consumidora mundial de carvão. O sonho do Paquistão de gerar 60% de sua energia a partir de fontes de energia limpa ainda está a décadas de distância. Na Indonésia, as usinas de carvão são tão baratas de operar que o país do Sudeste Asiático deve dobrar sua geração de carvão nos próximos 25 anos.
A crescente divisão ressalta um dilema global: os países ricos podem se dar ao luxo de dar as costas ao carvão, mas o combustível continua a ser uma alternativa fácil em países onde a eletricidade é escassa, instável ou inacessível.