Economia

Capital Economics vê Selic a 13% no pico e diz que recepção do pacote de corte de gastos pode acelerar aperto

28 nov 2024, 12:05 - atualizado em 28 nov 2024, 12:17
Selic pacote de corte de gastos
Governo anunciou pacote de contenção de gastos de R$ 71,9 bilhões para os próximos dois anos (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A Capital Economics espera que a Selic atinja o patamar de 13% no atual ciclo de aperto monetário. O economista Jason Tuvey afirma que os erros fiscais do governo brasileiro aumentam os riscos de alta para a taxa.

A projeção da consultoria britânica, inclusive, tem viés de alta. Tuvey afirma que as questões futuras, principalmente a recepção do mercado sobre as medidas fiscais anunciadas ontem (27) pelo governo, ainda podem acelerar o ritmo do aperto ou elevar pico dos juros.

Segundo o economista, o pacote de corte de gastos de R$ 71,9 bilhões não corresponde às expectativas e reforça a ideia de que falta comprometimento político para estabilizar as finanças públicas. “Uma consequência é que o ciclo de aperto do banco central pode ser mais agressivo”, diz.

Tuvey reforça ainda que, mais adiante, os formuladores de políticas podem optar pelo caminho da repressão financeira para melhorar as finanças públicas.

Embora a escala do aperto monetário estivesse alinhada com as expectativas, os investidores ficaram assustados com o anúncio da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil.

Apesar de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterar que o impacto na arrecadação será neutralizado por impostos sobre trabalhadores de alta remuneração, a medida reforça as preocupações de que o presidente Lula não está convencido da necessidade de disciplina fiscal, avalia a Capital Economics.

O anúncio provocou uma reação negativa nos mercados financeiros do Brasil. O real caiu cerca de 2% em relação ao dólar nas últimas 24 horas e os rendimentos dos títulos do governo em moeda local saltaram de 35 a 40 pontos-base na ponta longa da curva. “A reação nos mercados só tornará o trabalho de estabilização das finanças públicas mais difícil”, afirma.

Mesmo após o pacote de corte de gastos, a consultoria estima que um aperto fiscal de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) seja necessário para estabilizar a relação dívida. “O resultado é que o governo precisa executar superávits orçamentários primários para evitar que a relação dívida/PIB aumente”, diz.

Tuvey ressalta que o Brasil não enfrenta as mesmas tensões fiscais que levaram alguns países emergentes a entrarem em default nos últimos anos. No entanto, ele não descarta a preocupação e diz que o país enfrenta um problema de “queima lenta”.

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O pacote de corte de gastos

O governo confirmou uma economia de R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos — o equivalente à cerca de 0,3% do PIB ao ano.

Do montante, está projetada uma contenção de R$ 30,6 bilhões em 2025 e de R$ 41,3 bilhões em 2026. O impacto estimado até 2030 é de R$ 327 bilhões.

As medidas propostas incluem:

  • Reajuste do salário mínimo acima da inflação, mas “de forma sustentável”.
  • Idade mínima para militares entrarem na reserva.
  • Limite para transferências de pensões militares.
  • Abono salarial restrito a quem ganha até R$ 2.640, corrigido pela inflação até atingir 1,5 salário mínimo.
  • Crescimento das emendas parlamentares abaixo das regras fiscais.