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Caos hídrico no Rio mostra urgência em resolver saneamento

24 jan 2020, 12:16 - atualizado em 24 jan 2020, 12:16
Torneira agua
A água suja é o resultado de um processo que tem origem na água coletada para ser oferecida a população: os rios são poluídos por esgoto que é despejado in natura, o que dificulta muito o processo (Imagem: Pixabay)

A água turva e com gosto de terra que sai de torneiras de vários bairros do Rio de Janeiro desde o começo do ano e às vésperas do Carnaval é a combinação da falta de investimentos, ineficiência do governo e ressalta a urgência de investir no setor.

O governo precisa de R$ 32,6 bilhões para resolver o problema. Aberto ao investimento privado, o faturamento estimado chega a R$ 331,4 bilhões nos próximos 35 anos, maior parte deste total nos primeiros dez anos, segundo estimativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pelo projeto de concessão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).

”O Rio não tem dinheiro para esses investimentos. O setor público como um todo no Brasil não tem recursos para obras desta envergadura. As privatizações e concessões são a agenda do momento”, disse em entrevista o secretário da Fazenda, Luiz Cláudio Carvalho.

Enquanto a Cedae fala que parte do problema é a proliferação de geosmina, a água suja é o resultado de um processo que tem origem na água coletada para ser oferecida a população: os rios são poluídos por esgoto que é despejado in natura, o que dificulta muito o processo de limpeza.

Depois, chega a estações de tratamento sem produtos e equipamentos adequados para lidar com o problema.

Para a maior cidade turística do Brasil, os números são estarrecedores. Apenas 29% do esgoto é tratado e 44% coletado, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, órgão do governo federal.

“Sinto muito pela população do Rio estar passando por esta situação, mas isso está sendo espetacular para mostrar para a população que a estatal não tem competência para cuidar da água ou esgoto”, disse o secretário de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, em entrevista.

“O Rio é caso típico de estatal ineficiente que tem monopólio, não permite competição e foi exaurida pelos governos anteriores.”

À beira do colapso fiscal, o Rio delegou ao BNDES que desenvolvesse uma modelagem para conceder o tratamento de água e esgoto à iniciativa privada. O banco criou quatro blocos, cada um deles com uma fatia da cidade do Rio, mais uma soma de cidades do interior.

“O nível de ineficiência atual é bem elevado e a qualidade da água para ser tratada é terrível, mas investidores de peso têm demonstrado interesse nas concessões do Rio”, disse Fábio Abrahão, diretor de Infraestrutura, Concessões e PPPs do BNDES, em entrevista.

Modelo de privatização programado para o Rio:

Bloco 1: Zona Sul da cidade do Rio + 40 cidades

R$ 11 bilhões em investimentos
R$ 85,8 bi de receita estimada em 35 anos

Bloco 2: Barra e Jacarepaguá + 7 cidades

R$ 3 bilhões em investimentos
R$ 45,8 bi de receita estimada em 35 anos

Bloco 3: Zona Oeste do Rio + 8 cidades

R$ 3,5 bilhões em investimentos
R$ 41,5 bi de receita estimada em 35 anos

Bloco 4: Centro da cidade do Rio + 8 cidades

R$ 15,1 bilhões em investimentos
R$ 158,2 bi de receita estimada em 35 anos

Enquanto isso, a população do Rio e os turistas enfrentam filas nos supermercados para comprar água engarrafada, que sofreu inflação de até 40% diante da demanda.

“Estamos evitando caipirinhas por causa do gelo”, disse Ximena de La Torres, 23 anos, turista argentina. Ela está no Rio desde 15 de janeiro e conta ter sido aconselhada no hotel a não beber água da torneira, lavar o rosto e escovar os dentes. “Estou gastando mais do que o previsto.”

Na periferia e zonas mais pobres do Rio, o drama é ainda maior. A babá Conceição da Silva, de 36 anos, mora em Mesquita, um dos bairros mais afetados na região metropolitana. Ela ganha R$ 160 reais por dia de trabalho e agora gasta mais de 10% de sua renda comprando água para ela e seu filho de 7 anos. “Estamos comprando água engarrafada para beber e cozinhar. Mas temos que tomar banho com a água suja”, conta.

Prazos para concessões do saneamento do Rio:

– Tratamento de água atualmente: 87%

– Período máximo para alcançar 100%: 14 anos

– Tratamento de esgoto atualmente: 29%

– Coleta de esgoto atualmente: 44%

– Período máximo para alcançar 90%: 20 anos

Se os prazos não forem cumpridos, as empresas serão penalizadas e perderão as concessões

Apesar dos contratempos, o secretário de Finanças faz um apelo para os turistas não desistirem de ir ao Rio: “É um problema de gestão, mas a solução virá em tempo hábil. Mais do que um evento turístico e econômico, o Carnaval é importante do ponto de vista da imagem da cidade. Venham ao Rio”, pediu o secretário de Finanças do estado.

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