Canadenses negros usam cartilha de gênero na luta por igualdade
Líderes negros proeminentes no Canadá têm um plano para aproveitar o momento: eles estão pressionando as empresas a estabelecer metas para promover mais minorias em cargos importantes.
A estratégia toma emprestado o manual que ajudou a aumentar as perspectivas para as mulheres no setor corporativo do país. Por cinco anos, as empresas listadas na bolsa de Toronto precisam divulgar o número de mulheres em cargos executivos e posições de direção, além de delinear suas políticas para contratar mais mulheres.
O regulamento teve um efeito: as mulheres ocupavam 27% dos assentos nos conselhos de grandes empresas listadas no Canadá no ano passado, contra 21% em 2015, e estão preenchendo mais vagas em conselhos e na administração. Empresas com poucas mulheres em cargos de liderança estão sob crescente pressão dos acionistas para mudança.
Não existe uma regra de divulgação semelhante para raça, embora a ausência de representação negra em cargos de chefia seja óbvia em muitos setores.
Nos seis maiores bancos do Canadá e duas maiores seguradoras de vida, por exemplo, há 43 mulheres em cargos de diretoria, mas apenas um diretor negro.
“Precisamos colocar o mesmo foco que temos para as mulheres em metas e compromissos para as minorias visíveis”, disse Jaqui Parchment, chefe da consultoria Mercer Canada. “Existem paralelos que podem ser traçados.”
O mais recente censo descobriu que os negros representavam 3,5% da população no Canadá, onde a morte de George Floyd levou a protestos de rua e provocou um debate sobre se o país é tão inclusivo quanto muitos de seus cidadãos pensam.
Jaqui está entre um grupo de executivos que deseja promessas claras das empresas para promover mais funcionários negros para cargos de liderança.
Um problema é que empresas e agências governamentais no Canadá coletam menos dados sobre raça do que nos EUA e “simplesmente não admitimos a nós mesmos de que há um problema”, disse Jaqui, que se mudou da Jamaica para o Canadá quando era adolescente.
Dados sobre raça
“Muitas empresas canadenses celebram o cumprimento de cotas de ‘minorias sub-representadas’, mas a contratação e avanço dos negros continuam inexistentes”, disse Dennis Mitchell, diretor executivo da Starlight Capital, gestora de investimentos com sede em Toronto.
“A coleta de dados raciais nos níveis corporativo e governamental pressionará as empresas a avançarem, como fizeram com a igualdade de gênero”, disse.
Os problemas econômicos provocados pela pandemia de Covid-19 e a resposta do público às tensões nos EUA e em outros lugares estão começando a corroer a relutância tradicional das autoridades canadenses em avaliar raça.
O país começará a coletar dados sobre raça em sua pesquisa mensal sobre a força de trabalho. A agência de estatísticas canadense também tentará dividir os números por raça para alguns relatórios de empregos divulgados anteriormente.
Executivos negros estão iniciando outras iniciativas em meio ao debate. No mês passado, um grupo anunciou o lançamento de um novo fundo para investir em empresas e organizações controladas por negros no Canadá como forma de combater o racismo sistêmico.
Promessa de contratação
Mais mudanças podem surgir do ativismo de investidores, legisladores e executivos. Duas semanas após a morte de Floyd, Wes Hall, fundador da Kingsdale Advisors, lançou o Conselho Canadense de Líderes Empresariais Contra o Racismo Sistêmico.
O grupo realizará reunião virtual em 20 de julho. CEOs de empresas canadenses deverão assinar um compromisso de sete pontos para conter o racismo sistêmico.
Uma parte da promessa diz que as empresas devem se comprometer a preencher 3,5% de seus cargos executivos e de conselho no Canadá com líderes negros até 2025.
“Por meio dessa iniciativa, responsabilizaremos essas empresas pelo que estão dizendo, nos certificando de que estão seguindo o compromisso”, disse Wes.