Canadá é nova vítima da crise climática na agricultura
Uma nova prova do impacto da crise climática sobre o mundo agrícola pode ser encontrada no Canadá, onde em questão de semanas as condições do clima mudaram de forma brusca: de chuvas implacáveis para uma seca que afeta os cultivos das principais áreas de milho e soja do país.
No sul de Ontário, houve apenas alguns chuviscos desde o início de julho. É especialmente difícil para as lavouras porque o dilúvio anterior atrasou a época de plantio. Assim, o milho e a soja estão atrasados em seus estágios normais de desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis às condições secas.
“Você observa o estresse das lavouras muito rapidamente quando não há umidade vinda do céu”, disse Markus Haerle, presidente da Grain Farmers of Ontario, em entrevista por telefone de sua fazenda nos arredores de St. Isidore.
As condições climáticas caóticas surpreenderam agricultores em todo o mundo, diante de eventos como calor recorde, maiores chuvas torrenciais em décadas e seca, às vezes todos na mesma plantação em questão de meses.
Mesmo com os avanços na tecnologia de sementes que podem ajudar a recuperar a produtividade, a mudança climática coloca em risco a oferta mundial de alimentos. Com o clima mais extremo, a produção estável de alimentos está cada vez mais em perigo, ameaçando primeiro as populações mais pobres, afirmou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas esta semana.
Em Ontário, as lavouras estão atrasadas entre duas e quatro semanas em relação ao estágio normal de desenvolvimento para esta época do ano. O milho enfrenta alto teor de umidade, o que pode afetar a qualidade da cultura. A soja tem menos vagens do que o habitual.
“Teremos uma colheita tardia, não há dúvida sobre isso”, disse Aaron Breimer, gerente-geral da divisão Veritas da Deveron, uma empresa de dados agrícolas.
A perspectiva de uma colheita tardia pode deixar as lavouras vulneráveis à geada precoce, o que pode danificar as plantas e reduzir a produtividade. Drew Lerner, presidente da World Weather, espera que o início do clima mais frio na região seja “razoavelmente próximo do normal, ou talvez um pouco mais cedo”.
Ainda assim, há tempo para os campos se recuperarem da seca. Um pouco de calor ao longo de agosto e boas chuvas são necessários para que as lavouras de milho e soja obtenham boa produtividade, disse Breimer de Deveron.
Mas o agricultor Haerle disse que precisará de uma produtividade excepcional em sua safra de soja para atingir o ponto de equilíbrio este ano, já que a guerra comercial EUA-China reduz os preços globais. Para o milho, se o teor de umidade permanecer alto, ele será forçado a vendê-lo como grão para ração de gado, obtendo preços mais baixos devido à qualidade inferior.
“Não podemos mais arcar com preços baixos porque já temos um impacto significativo da guerra comercial dos EUA”, disse.