Cana velha: sem renovação ideal, crise deixou sem horizonte ganho de produtividade
Para o Centro-Sul voltar a encostar num volume de cana-de-açúcar parecido com a última safra, deverão ser precisos entre dois e três ciclos, contando com clima favorável, como já havia se manifestado, aqui em Money Times, o consultor Ricardo Pinto.
Para se chegar a uma produtividade acima da média vista antes da crise da seca e geadas, como a vivenciada no período atual, não há nem prazo mais à vista. E produtividade é sinônimo de minimização de problemas.
O que já era difícil de ter como meta passar das 75/80 toneladas de média de cana por hectare, em conta até ambiciosa, saiu do horizonte. Cana de 3 dígitos, coisa para 100 t/ha, somente em poucas ilhas.
Ricardo Pinto, CEO da RPA Consultoria, estima que da média de 81 t/ha da safra 20/21, a produtividade desceu a 69% nesta 21/22.
Tem razão a Copersucar ao comentar que com investimentos e pesquisas se pode conseguir mais matéria-prima sem precisar de ganho de área – inclusive por o Brasil já contar com avanços em biotecnologia e materiais mais resistentes e até adaptados a condições climáticas severas.
Mas sem renovação de área não adianta nada.
E quem ainda reservou alguma área para tirar a cana velha e plantar mudas novas, certamente não terá recursos sobrando para comprar novas tecnologias.
O volume de cana envelhecida deverá crescer, complementa Pinto.
A média de renovação já era considerada aquém do necessário, há anos entre 14% e 17% da área de produção – em torno dos 7,5 milhões de hectares -, portanto longe dos 20% defendidos pelos especialistas. Deve cair muito agora, porque os custos de manejo para minimizar os estragos foram grandes e certamente os altos custos de renovação foram deixados de lado.
Descapitalizados, poucos produtores independentes conseguirão bancar. E muitas usinas não conseguirão sair da crise atual com caixa sobrando, depois que a safra deve se concluir com uma quebra de 70 a 80 milhões/t, de 605 milhões/t da última.
“Além disso, os custos se elevaram demais e há falta de insumos em geral”, explica Sérgio Castro, pesquisador e produtor da AgroQuatro-S.
A cana futura ficará mais envelhecida, entre seis e oito cortes, e não apenas a produtividade cairá, como a qualidade também.