Campos Neto reitera autonomia do BC e diz que não planeja avisar ministro sobre mudança no corte de juros
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em entrevista ao Estadão, reiterou a autonomia do órgão e defendeu que alterações no guidance devem ser avisadas para todos ao mesmo tempo.
Questionado pelo Estadão sobre se poderia ter informado a mudança para o ministro Fernando Haddad, Campos Neto respondeu que nunca fez isso no governo anterior e não fará agora.
Ele destacou que mudanças no guidance já ocorreram diversas vezes nos seis anos em que está no BC, e nunca cogitou ligar para o ministro Paulo Guedes para notificar possível mudança. “É uma prerrogativa do Banco Central, que tem autonomia. Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste”, disse ao jornal.
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A entrevista ao jornal ocorreu após a autoridade monetária ir contra a orientação de política monetária do encontro de março e reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual (p.p.), com votos divididos entre os membros do colegiado (5-4).
Este foi o primeiro corte desta magnitude na taxa básica de juros desde que o Banco Central deu início ao seu afrouxamento monetário. Antes disso, foram seis cortes de 0,50 p.p. Com isso, a Selic passou de 10,75% para 10,50% ao ano — o menor patamar de juros desde março de 2022.
Na entrevista ao Estadão, o presidente do BC explicou ainda que os diretores discutiram internamente os efeitos no mercado da divisão no colegiado, contudo, concluíram como importante que cada um tivesse sua opinião. Ele destacou ainda que não houve divergência em relação às “condicionantes” do cenário.
Ata do Copom e o que esperar da Selic
Na Ata do Copom, publicada nesta semana, o Banco Central reforça que o ambiente externo está mais adverso, com dúvidas sobre o início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e velocidade da desinflação.
Os debates giraram em torno de seguir ou não o forward guidance indicado na reunião anterior. Mas no final, a conclusão que se teve é de que todos compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externa, e de que o compromisso do BC é de combate à inflação.