Economia

Campos Neto não se anima com impacto dos combustíveis na inflação; ‘Enfrentamos desafios para consolidar a desinflação’

18 maio 2023, 10:16 - atualizado em 18 maio 2023, 10:16
Roberto Campos Neto, Banco Central, combustíveis
Campos Neto afirma que o processo de desinflação deve continuar, mas de forma não linear. (Imagem: Rafael Ribeiro/BCB)

A recente mudança nos preços da Petrobras (PETR3PETR4) promete ajuda a reduzir a inflação dos próximos meses. No entanto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, segue pedindo paciência na hora de avaliar a desaceleração dos preços e o futuro da Selic.

“O processo de desinflação deve continuar, mas de forma não linear. Os núcleos de inflação estão mais resilientes devido à difusão da inflação entre os setores e pressões subjacentes ainda fortes em componentes mais rígidos, como serviços”, disse Campos Neto ontem, na Conferência Anual do Banco Central.

O presidente da autoridade monetária destacou o arrefecimento inflacionário é prova de que a política monetária vem dando resultado. No entanto, apesar de os números estarem progredido, “ainda enfrentamos desafios para consolidar a desinflação no Brasil” e a velocidade da desinflação tende a ser mais lenta nessa segunda etapa.

Rafael Passos, analista da Ajax Capital, aponta que Campos Neto também defendeu o sistema de metas e repetiu que o arcabouço fiscal pode “eventualmente” ajudar a ancorar as expectativas, já que reduz o risco fiscal – ainda que não tenha “relação mecânica” com a política monetária.

Já, segundo informações de um diretor da mesa de tesouraria de um banco estrangeiro, o desempenho do mercado de inflação também está ligado à possibilidade de o Conselho Monetário Nacional (CMN) manter a meta de inflação inalterada.

“Se o governo decidir manter a meta inalterada, o resultado será extremamente positivo para os mercados e, consequentemente, para a economia”, disse.

Entenda o impacto dos combustíveis na inflação

Ontem, a Petrobras reduziu os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha (GLP) nas suas distribuidoras.

O litro do diesel A nas distribuidoras passa de R$ 3,46 para R$ 3,02. Trata-se de uma redução de R$ 0,44, ou 12,71%. Já o litro da gasolina A fica R$ 0,40 mais barato (-12,57%), passando de R$ 3,18 para R$ 2,78.

Por fim, o botijão de gás passa de R$ 3,2256 para R$ 2,5356 por kg, equivalente a R$ 32,96 por botijão de 13kg.

A mudança nos preços foi anunciada após a estatal comunicar que deixará de usar a política de preço de paridade de importação (conhecida como PPI) e adotará uma nova estratégia comercial para definição de preços.

Durante uma coletiva de imprensa nesta manhã, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que a nova política de preços da Petrobras ajudará o Brasil a combater a inflação. Os economistas apontam que ainda é cedo para saber qual será o efeito da nova política de preços.

Por outro lado, a recente redução nos preços vai mexer com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos próximos meses.

Segundo cálculos do economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) para O Globo, a queda na gasolina e no diesel terá um impacto de cerca de -0,27 ponto percentual na inflação em maio e outros -0,27pp em junho.

Vale lembrar que a gasolina tem um peso maior no orçamento das famílias brasileiras. No entanto, reduções no diesel tendem a impactar preços de outros produtos devido ao frete de mercadorias.

Já a queda no preço do botijão de gás deve resultar em uma queda de 0,07pp no IPCA de maio e 0,07 pp no de junho.

Charbel Zaib, economista-chefe da Arcani Investimentos, afirma que a medida é positiva no sentido de manter os preços mais estáveis, o que dá um impacto também positivo na inflação.

“A partir do momento que você não está sujeito a oscilações bruscas nos preços dos combustíveis, você não tem esse impacto na inflação com as variações. Podemos dizer, de maneira geral, que é positivo para o consumidor no que tange a questão da volatilidade e capacidade de manter os preços sob controle”, aponta.

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