Campos Neto na mira: Governo espera corte nos juros e ameaça BC com ‘desdobramentos’
Diante da provável aprovação de uma nova regra fiscal pelo Congresso, cresce a pressão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que o Banco Central (BC) corte a taxa básica de juros (Selic), estacionada em 13,75% ao ano desde agosto passado.
Já o presidente do BC, Roberto Campos Neto, diz que, apesar de reconhecer o esforço do governo, não existe uma relação mecânica entre o arcabouço fiscal e o juro básico no país. Ou seja, a aprovação de uma nova âncora fiscal não é sinônimo de corte na Selic.
O argumento do chefe do BC, porém, não parece convencer o governo. Nesta sexta-feira (2), o presidente Lula voltou a criticar o elevado patamar da taxa Selic, e afirmou que o maior gasto do Brasil é com o pagamento de juros para o sistema financeiro.
A pressão contra Campos Neto ganha força com os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta semana. No primeiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu 1,9%, acima das projeções do mercado, que apontavam para um crescimento entre 1,1% e 1,4%.
Neste contexto, os membros mais otimistas do mercado financeiro esperam que o primeiro corte na taxa de juros ocorra em agosto próximo. Já a opinião média aponta que a trajetória de queda deve começar em setembro deste ano.
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Líder do governo Lula diz que haverá desdobramento caso os juros não caia
Em entrevista recente, o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT), afirmou que haverá “desdobramento” caso a Selic não tenha uma baixa no segundo semestre deste ano.
“Não tem inflação alta, o desemprego está cedendo, o crescimento está se estabelecendo.. Estamos fazendo as reformas que são necessárias e nada disso serve para uma baixa”, disse Guimarães.
“Acho que se isso não ocorrer, teremos desdobramentos no segundo semestre em todos os aspectos”, completou.
A lei que estabeleceu a autonomia do Banco Central frequentemente é utilizada pelo governo Lula para criticar a condução da política monetária. Para os governistas, a autarquia poderia estar violando a lei ao não “fomentar o pleno emprego”.
Caso fique comprovado que Campos Neto apresenta “desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central”, o presidente Lula poderia demiti-lo. A exoneração, no entanto, precisaria ser aprovada por, no mínimo, 41 senadores.