Campos Neto cita piora em expectativas, prêmio de risco e percepção fiscal ao justificar decisão do Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) observou em sua última reunião uma piora em expectativas de inflação, prêmio de risco e percepção fiscal, disse nesta quarta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao justificar a decisão da autarquia de reduzir o ritmo de afrouxamento monetário.
Falando em conferência do Banco Central, Campos Neto afirmou que a discussão foi centrada em argumentos técnicos, colocando “extrema relevância” na desancoragem das expectativas de inflação, com o colegiado avaliando de forma unânime a importância de perseguir a reancoragem, independentemente de suas causas.
“O entendimento da maioria foi claro que as mudanças tinham sido relevantes e que deveríamos responder com uma mudança no ritmo, no ‘pace’. Dentro desse grupo, alguns inclusive acharam que tínhamos argumentos para mudar o balanço de riscos (para a inflação), como foi explicitado”, afirmou.
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Campos Neto frisou que num debate sobre o trabalho do BC não deveria se falar em banda de tolerância para a meta de inflação, reforçando que o alvo é 3% e precisa ser perseguido.
“O Focus, depois de parado por meses, iniciou um movimento com tendência de alta. Decidimos, então, reconhecer que a expectativa estava desancorada, e não com reancoragem parcial”, disse.
O BC cortou a Selic em 0,25 ponto percentual na quarta-feira, para 10,50%, reduzindo o ritmo de afrouxamento monetário após seis cortes seguidos de 0,50 ponto.
A decisão foi tomada por 5 votos a 4, com o voto favorável de Campos Neto e outros quatro diretores que já estavam no posto desde o governo anterior, enquanto os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva divergiram e defenderam a manutenção do corte mais forte, de 0,50 ponto.
Após ler um discurso previamente divulgado pelo BC sobre dados macroeconômicos e visões apresentadas na ata do Copom, Campos Neto afirmou que faria um pronunciamento sobre a decisão do colegiado da semana passada “para esclarecer alguns pontos”.
Segundo ele, o BC já havia informado anteriormente que a orientação futura da política monetária tinha condicionantes.
“Na reunião, discutimos os condicionantes, o debate foi sobre a gradação dos condicionantes, e não sobre a validade dos condicionantes e dos argumentos”, afirmou.
De acordo com o presidente do BC, o Copom observou uma piora no ambiente para a taxa de juros nos Estados Unidos. No cenário local, foram discutidas implicações de um mercado de trabalho forte sobre a inflação e riscos de um comportamento menos benigno nos preços de alimentos.
Sem dar detalhes, Campos Neto afirmou que a incerteza política também foi discutida pelo Copom, e que ela “continua sendo elevada e gera uma incerteza no preço do petróleo”.
Na reunião, de acordo com o presidente da autarquia, foi “bastante discutido” o tema fiscal, diante de uma “clara percepção” de piora na credibilidade do arcabouço para as contas públicas, com possíveis implicações para a política monetária.
Ele ainda apontou que, para os membros do Copom, algumas variáveis importantes de prêmio de risco apresentaram piora, citando como exemplo as NTN-Bs, títulos do Tesouro Nacional com remuneração atrelada à inflação.
A Reuters mostrou que o Tesouro tem visto a demanda por esses títulos secar, mesmo pagando taxas mais altas em meio ao ambiente de incertezas externas e domésticas, o que torna desafiador o plano do governo para alongar o prazo médio da dívida pública.
Em relação à dinâmica dos preços no Brasil, Campos Neto disse que dados referentes à inflação corrente se mostraram benignos, tanto na inflação cheia quanto nos núcleos, que desconsideram itens mais voláteis.
Ele ponderou que, além da desancoragem das expectativas, há preocupação com a inflação de serviços e de alimentos, citando também possíveis efeitos das inundações no Rio Grande do Sul sobre a economia.