Eleições 2022

Campanha de Bolsonaro turbina gatilho do medo de Lula na reta final, com terror religioso e antiesquerdismo

18 out 2022, 17:21 - atualizado em 18 out 2022, 17:21
Jair Bolsonaro
A campanha de Bolsonaro vai tentar dosar a tentativa de desconstrução de Lula com mensagens que apontam a melhora da economia (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu usar a reta final até o segundo turno para turbinar o medo contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmaram à Reuters duas fontes do QG bolsonarista nos últimos dias.

Com a missão de virar até o dia 30 uma diferença de 6,2 milhões de votos que Lula obteve sobre Bolsonaro no primeiro turno, a linha de atuação é fazer acusações contra o adversário para desconstruí-lo e insuflar a rejeição ao petista na casa de 41%, contra 46% de Bolsonaro, segundo pesquisa recente do Ipec.

O plano tem dois eixos principais: o terror religioso, ao dizer, sem evidências, que Lula pretende fechar igrejas, e campanha antiesquerdista, dizendo que, se voltar ao poder, Lula vai afundar a economia como na Argentina ou Venezuela.

A estratégia tem sido reforçada em falas e postagens de Bolsonaro e de aliados próximos, como no debate do domingo na Band TV, o primeiro confronto direto entre eles no primeiro turno.

Muitas das afirmações são falsas ou são alegações não acompanhadas de qualquer prova.

Mesmo sem evidências e apesar das reiteradas negativas de Lula, Bolsonaro tem dito que o petista, se eleito, vai perseguir igrejas católicas, podendo até fechá-las, à semelhança do que ocorre na Nicarágua, governada por Daniel Ortega.

O candidato à reeleição também reiteradamente tem afirmado que o Brasil poderá virar uma Venezuela, Argentina ou Chile em caso da vitória do Lula, questionando a situação econômica desses países sul-americanos governados por presidentes de esquerda.

Outro tema explorado é tentar vincular Lula a criminosos. Na propaganda partidária que até já foi suspensa e em recente debate, foi destacado o fato de o adversário ter tido uma votação expressiva nos presídios.

Na propaganda partidária que até já foi suspensa e em recente debate, foi destacado o fato de o adversário ter tido uma votação expressiva nos presídios (Imagem: Flckr/Alan Santos/PR)

Ainda que a população de presos votante seja ínfima em relação ao total, menos de 15 mil de um universo de 156 milhões aptos a votar, isso deverá ser intensificado para tentar aumentar a rejeição, disse uma das fontes.

“Eu conheço o Rio de Janeiro. O senhor esteve atualmente no Complexo do Salgueiro. Não tinha nenhum policial ao seu lado, só traficante. Tanto é verdade sua afinidade com traficantes, com bandidos, que nos presídios do Brasil a cada cinco votos o senhor teve quatro votos”, disse Bolsonaro no confronto com Lula no domingo.

A campanha contou com o reforço do ex-juiz da Lava Jato e senador eleito Sergio Moro (UB-PR) para desgastar Lula.

O presidente foi ao debate no domingo acompanhado de Moro, após ele ter deixado o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro, acusando-o de interferência na Polícia Federal.

Moro foi um algoz de Lula, conduzindo processos que descortinaram a corrupção na Petrobras, levaram Lula à prisão por 580 dias e o retiraram do pleito passado.

Posteriormente, no entanto, as condenações do petista foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal e Moro considerado parcial pelo STF.

Na campanha, segundo uma fonte, a simples presença de Moro no debate serviu para reforçar o antipetismo e tentar desestabilizar Lula, repercutindo bastante.

Embora torçam, não está certo que o ex-juiz vai atuar em conjunto com Bolsonaro na reta final, mas ele tem reforçado em entrevistas e redes sociais os ataques ao ex-presidente.

A meta dessa estratégia é tentar capturar uma porcentagem entre 8% a 10% de eleitores de Lula que admitem, segundo levantamentos internos da campanha, que ainda podem mudar de voto esse porcentual é menor, entre 4% a 6% de eleitores que declaram escolher Bolsonaro, mas admitem que podem mudar de ideia.

O presidente foi ao debate no domingo acompanhado de Moro, após ele ter deixado o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Foram escaladas para ajudar nesse trabalho, segundo a primeira fonte, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a ex-ministra e senadora eleita pelo DF Damares Alves (Republicanos).

Desde a semana passada, elas começaram a fazer agendas de campanha conjuntas, em parte em eventos evangélicos, e devem realizar atos semelhantes até o dia 30, conforme a fonte. A agenda, contudo, ainda não está fechada.

A ordem de intensificar a campanha negativa ocorre no momento em que o QG bolsonarista tenta conter os estragos feitos pela campanha negativa que vem do lado lulista, capitaneada pelo deputado federal André Janones (Avante-MG).

Novo aliado de Lula, Janones tem liderado ações nas redes sociais e disputado engajamento e repercussão em um ambiente que desde a campanha de 2018 tem sido dominado por Bolsonaro e aliados, sob o comando do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

A campanha de Bolsonaro vai tentar dosar a tentativa de desconstrução de Lula com mensagens que apontam a melhora da economia após a pandemia e em meio à guerra na Ucrânia.

Outra linha de força da comunicação bolsonarista será destacar que com um Congresso eleito mais alinhado ideologicamente a Bolsonaro, seus projetos vão avançar mais rápido em caso de reeleição.

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