Caminho sem volta: Brasil está caminhando para um recessão; entenda

A economia brasileira deve caminhar para uma recessão, e não há muito o que possa ser feito dentro da atual estratégia de política econômica, em particular, por duas razões:
Primeiro, porque o motivo para essa desaceleração pode ser atribuído, em grande medida, a essa mesma estratégia.
Em segundo lugar, os instrumentos tradicionais para suavizar os impactos sobre a atividade econômica têm seu uso limitado neste momento.
Nos últimos anos, a economia tem crescido acima de sua capacidade. Isso é evidente quando olhamos o comportamento da inflação e da renda. Enquanto a produtividade efetiva do trabalho, calculada pelo IBRE-FGV, se encontra praticamente no mesmo nível pré-pandemia, a renda disponível das famílias, que já inclui benefícios sociais, cresceu 14% no mesmo período.
Só em 2024, o crescimento da renda foi 6,3% acima da inflação, ao passo que a produtividade ficou estagnada. Essa expansão em ritmo muito superior ao da produtividade pressiona o custo do trabalho, o que é repassado para o restante da economia. Esse superaquecimento econômico também fica claro nos números de inflação.
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Nem a alta de juros na pandemia para 13,75% e posterior estabilidade por um longo tempo foi suficiente para trazer a inflação para a meta. A inflação terminou 2023 em 4,62%. Agora, mesmo com a retomada do ciclo de alta de juros desde a segunda metade do ano passado, segue acima do teto da meta.
Também não há perspectiva de que isso mude tão cedo. A projeção da pesquisa Focus indica IPCA de 5,65% neste ano e 4,4% em 2026. Isso mesmo contando com a elevação da Selic até 15% neste ano e recuo para apenas 12,5% em 2026.
Como essas pressões inflacionárias devem levar algum tempo para se dissiparem, será limitado o espaço para o Banco Central reduzir a taxa de juros para estimular a economia novamente e evitar uma recessão. De fato, mesmo com a redução esperada pelas projeções do mercado, a taxa de juros deve continuar em patamar restritivo para a economia nos próximos anos.
Da mesma forma, será limitado o espaço para que o gasto público assuma o papel de estimulador da atividade econômica. Mesmo com muito esforço, o resultado primário deste ano deve ficar novamente próximo do intervalo inferior da meta, em -0,25% do PIB.
Ainda que outras formas de expansão fiscal fora do orçamento possam ser utilizadas, um avanço nessas alternativas provocaria uma reação significativa do mercado, restringindo ainda mais as condições financeiras e anulando eventuais efeitos positivos para a atividade econômica.
A opção de mudar a estratégia de política de forma repentina, além de politicamente improvável, significaria um freio importante sobre o crescimento do gasto público, o que, a curto prazo, também traria uma desaceleração para a atividade econômica.
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A saída parece estar nas expectativas. Se o governo conseguisse convencer os agentes econômicos de que uma eventual mudança de estratégia será crível e permanente, a melhora da percepção abriria espaço para a queda dos juros e alívio das condições financeiras no curto prazo, ao mesmo tempo em que permitiria um ajuste um pouco menos abrupto das contas públicas.
Esse convencimento tem se mostrado difícil. O desgaste da credibilidade do arcabouço fiscal, que tem se mostrado incapaz de impedir o aumento das expectativas de dívida pública, e a dificuldade do Banco Central em convergir as expectativas em direção ao centro da meta evidenciam que convencer os agentes com sinalizações não tem sido efetivo.
O resultado do substancial aumento de juros em curso, combinado com uma expansão fiscal limitada, deve encaminhar a economia para a recessão entre este e o próximo ano. Além disso, a proximidade do ciclo eleitoral torna bastante improvável a mudança da estratégia de política.
Por isso, a perda de força da economia, que já começou a dar os primeiros sinais no final do último ano, deve ser um caminho sem volta para este e o próximo ano.