Calote dos EUA: Entenda as consequências de um default e por que ele se tornou possível
“Catástrofe econômica” é como Janet Yellen classificou a possibilidade dos Estados Unidos não elevarem o teto da dívida. A secretária do Tesouro fez o alerta em um evento com empresários nesta terça-feira (25).
Desde que atingiu o limite da dívida no início do ano, o governo dos Estados Unidos perdeu a permissão de tomar dinheiro emprestado. Diante dessa trava, a secretária do Tesouro projeta que os pagamentos federais conseguirão ser honrados até junho.
A partir de então, sem novos empréstimos, o governo não conseguiria honrar com seus compromissos financeiros.
Atualmente, o limite da dívida é US$ 31,4 trilhões, 133% do PIB consolidado no ano fiscal de 2021. Há 10 anos, a dívida era da ordem de US$ 23 trilhões.
O que acontece se os EUA não pagarem a dívida?
Os efeitos de uma crise de insolvência do Executivo federal teria repercussões amplas e complexas para a economia americana e os mercados financeiros em todo o mundo.
Da parte pública, o default tiraria a capacidade do governo em pagar fornecedores de defesa, os cheques da Segurança Social, que serão recebidos por aposentados, salários de funcionários do governo e até mesmo os serviços de Meteorologia.
O calote da dívida pública minaria a confiabilidade dos Estados Unidos e colocaria em xeque a qualidade dos títulos da dívida como ativos de baixo risco. São as Treasuries, a propósito, que garantem a solvência dos principais bancos americanos.
Para tomar um risco maior, os compradores da dívida americana cobrariam prêmios bem mais elevados, gerando um efeito cascata diversos mercados de crédito, como é o caso dos contratos hipotecários e de financiamento de veículos.
“Uma inadimplência aumentaria o custo dos empréstimos para a perpetuidade. Os investimentos futuros se tornariam substancialmente mais caros”, alerta Yellen.
A preocupação dos mercados é que o impasse deste ano reproduza o de 2011. Naquele ano, a agência de crédito S&P rebaixou a classificação do país.
Analistas do governo avaliaram que os atrasos no pagamento da rolagem da dívida fizeram com que o custo dos empréstimos do Tesouro dos EUA aumentasse em US$ 1,3 bilhão, pois os investidores exigiam taxas mais altas devido à incerteza.
Por que cenário se tornou possível?
O impasse envolvendo o não pagamento da dívida pública virou um fato corriqueiro em Washington, mas nunca se tornou um problema real para os Estados Unidos. Como citado pela BBC Brasil, desde 1960, Congressistas aumentaram, estenderam ou revisaram a definição do limite da dívida em 78 ocasiões.
Apenas no último semestre de 2022, foram três revisões nesse sentido. Porém, de lá para cá, a mudança do controle da Câmara dos Representantes dos democratas para republicanos mudou a margem de manobra que a administração Biden vinha tendo no Capitólio.
Eleito magramente com apoio de republicanos fiscalistas, o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy (R-Califórnia) deve continuar “estendendo a corda” nas negociações, em busca de um compromisso fiscal rigoroso da Casa Branca.
Em um contexto de tamanha polarização entre os partidos de situação e oposição, o temor que é que a falta de um ‘terreno comum’ entre as lideranças desemboque em um calote intencional.
Na semana passada, o porta-voz da Câmara apresentou um plano que combinaria US$ 4,5 trilhões em cortes de gastos, com um aumento de US$ 1,5 trilhão no teto da dívida. Segundo ele, esta seria uma base para as negociações nas próximas semanas.
A posição de McCarthy em por condições para a aprovação de um novo teto sofre ataque dos democratas. Além das críticas de Yellen, Biden vem aumentando o tom contra os republicanos da Câmara, associando o apelo para compromissos fiscais ao fato de serem apoiadores de Trump.
A acusação contra a base fiscal expansionista de Biden não vem somente do partido republicano. Democratas centristas, como Joe Manchin, expressaram descontentamento com os contornos desenvolvimentistas que os pacotes defendidos pela Casa Branca tomaram.
A pressão para que Joe Biden diminua o passo dos gastos públicos ocorre exatamente no mesmo momento que o presidente prepara o lançamento da sua candidatura à reeleição. Diante de uma inflação alta e juros altos, Biden tenta dobrar a aposta em sua plataforma de gastos para contrapor os seus principais adversários.