Calote do Credit Suisse a investidores abre precedente perigoso em mercado de US$ 250 bi; entenda
A zeragem do preço dos ‘CDBs’ do Credit Suisse, chamados por lá de AT1s, como parte do acordo de compra do banco em apuros pelo UBS está deixando os investidores do mercado de títulos furiosos e preocupados com o precedente que foi aberto.
Isto, porque, quando uma companhia tem sua falência decretada, é comum que os detentores de títulos da dívida dessa empresa acabem possuindo uma prioridade sobre os acionistas para receber o que restou dos fundos.
No acordo costurado ontem com o governo suíço, no entanto, os acionistas da empresa vão receber ações do UBS, utilizadas para a aquisição do Credit Suisse. Já aos detentores dos AT1s restará apenas um abraço de consolação.
Ao todo, o mercado de AT1s, conhecidos mais amplamente por títulos contingenciais conversíveis, na Europa vale US$ 250 bilhões.
O temor dos investidores é de que a prática adotada pelo regulador suíço abra um precedente prejudicial aos investidores, caso outras instituições financeiras sejam acudidas por acordos de aquisição para estancar crises de liquidez.
Esse temor se traduziu pela queda de dois dos principais ETFs (fundos de índice) que possuem em sua composição cestas de títulos contingenciais conversíveis. O Wisdom Tree AT1 Coco e o Invesco AT1 Capital tiveram quedas de, respectivamente, 12,7% e 16,8% desde a queda do SVB Bank.
Em uma aspa colocada pela revista Barron’s, Louis Gave, da Gavekal Research, critica a medida, dizendo que “os formuladores de política parecem prontos para sacrificar os direitos dos investidores sob a alegação de um ‘bem comum'”.
Tentando por panos quentes à situação, reguladores da União Europeia e da Inglaterra emitiram comunicados reafirmando que os detentores desses títulos arcariam com perdas somente depois dos acionistas.
Credit Suisse é vendido por bagatela
Após rumores na semana passada, o UBS deve ser mesmo o comprador do Credit Suisse. A aquisição vale US$ 3,2 bilhões pagos 100% em ações do UBS. Vale lembrar que na crise de 2008, o CS valia US$ 100 bilhões.
Como lembra Dan Kawa, CIO da Tag Investimentos, a compra do UBS ocorreu por cerca de 30% do valor da ação cotada do CS na sexta-feira. O valor alcançado é quase quinze vezes inferior ao tamanho do patrimônio detido pelo Credit Suisse, estimam alguns analistas.
Segundo Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, “as garantias para o negócio são generosas por parte do governo: o BC da Suíça oferece uma linha de liquidez de 100 bilhões de francos suíços para o UBS”. Há também uma reparação de perdas de até 9 bilhões francos patrocinadas pelo contribuinte suíço.
As extraordinárias garantias de liquidez concedidas pelo governo da Suíça ao UBS deram condições para a zeragem dos títulos de dívida corporativa do Credit, os AT1s, aumentando a proteção contra perdas do UBS para 25 bilhões de francos suíços.