Internacional

Califórnia aprende lição na transição para energia limpa

18 ago 2020, 17:27 - atualizado em 18 ago 2020, 17:27
Outras regiões que lidam com condições climáticas extremas costumam usar energia convencional para atender à demanda (Imagem: Freepik)

Os primeiros apagões na Califórnia desde a crise de 2001 mostram que obter energia 100% livre de carbono é mais difícil do que parece.

A pior onda de calor em gerações embala uma demanda quase recorde por eletricidade. Com a rápida eliminação de combustíveis fósseis no estado, ficou mais difícil garantir a permanência das luzes acesas.

Guiada por uma das políticas de energia limpa mais ambiciosas do mundo, a Califórnia fechou usinas movidas a gás natural, no esforço para obter energia sem carbono. Os apagões fazem muitos questionarem se essa mudança não aconteceu rápido demais.

A Califórnia precisa “acordar para a realidade de que, nesta transição, precisamos fazer mais e estarmos muito mais atentos à nossa capacidade de fornecer backup e seguro”, disse o governador Gavin Newsom durante uma entrevista coletiva.

Outras regiões que lidam com condições climáticas extremas costumam usar energia convencional para atender à demanda. Durante uma onda de calor no ano passado, usinas nucleares ajudaram a manter as luzes acesas em Paris. Em Londres, distribuidoras de eletricidade dependem de usinas movidas a carvão e gás.

Mas a Califórnia, que tem uma das redes elétricas mais limpas do país, aposentou mais de 9 gigawatts de geração de gás nos últimos anos, na tentativa de deixar toda a rede verde até 2045. O estado ainda obtém mais de um terço da energia a partir do gás, mas isso nem sempre é suficiente para atender à demanda nos horários de pico, especialmente à noite, quando a produção de energia solar diminui.

A Califórnia, que já estava na liderança da transição energética, virou campo de testes para alcançar neutralidade em carbono rapidamente. Este é também um objetivo explícito do candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden. Os apagões revelam a dificuldade disso, mas podem ensinar outras economias com ambições semelhantes.

“Nosso sistema de energia está na vanguarda da transição”, disse Michael Wara, diretor do Programa de Política Climática e Energética da Universidade de Stanford. “À medida que outras regiões fizerem essa transição, enfrentarão desafios desse tipo.”

O operador da rede do estado atribuiu os apagões a uma “tempestade perfeita” formada por calor extremo e demanda excepcionalmente alta, além da seca que limita os recursos hidrelétricos e a diminuição da importação de eletricidade de estados vizinhos, que também lutam para manter os aparelhos de ar-condicionado funcionando.

Para agravar o problema, houve desligamento inesperado de 1 gigawatt de energia eólica no sábado, juntamente com uma usina movida a gás.

“Ao passo que eliminamos as usinas a gás, precisamos de um plano para manter a confiabilidade”, disse Severin Borenstein, integrante do conselho do Operador do Sistema Independente da Califórnia e professor da Universidade da Califórnia em Berkeley. “Em alguns casos, construímos um plano de confiabilidade que não é totalmente realista.”

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