Economia

Cálculo horário trará mudança estrutural em preço spot da energia, diz Acende Brasil

10 out 2019, 20:32 - atualizado em 10 out 2019, 20:32
O objetivo da mudanças nos cálculos é atribuir valor à energia de acordo com o momento de produção (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O preço spot do mercado de eletricidade do Brasil, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), terá mudanças estruturais quando começar a ser definido em base horária, e não mais semanal como hoje, o que acontecerá ao longo dos próximos dois anos e exigirá adaptação dos investidores, disseram à Reuters especialistas do centro de estudos Instituto Acende Brasil.

O governo decidiu em julho que o PLD será calculado a cada hora em 2020, para guiar o acionamento de usinas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), enquanto em 2021 o preço horário será usado na contabilização e liquidação de operações no mercado livre de energia, no qual grandes clientes podem negociar contratos com geradores e comercializadores.

O objetivo da mudanças nos cálculos é atribuir valor à energia de acordo com o momento de produção, com preços maiores em momentos de maior demanda ou menor geração, por exemplo, o que deve levar a ganhos de eficiência para o sistema elétrico como um todo no longo prazo, explicou o presidente do Acende Brasil, Claudio Sales.

“Isso aumentará o grau de sofisticação… assim, é muito importante gerar uma conscientização sobre a necessidade de os agentes começarem a se planejar”, afirmou ele, ressaltando que os impactos financeiros sobre empresas do setor podem ser significativos.

A maior parte das usinas de geração no Brasil vende a produção a preços combinados em acordos de médio e longo prazo, mas elas precisam comprar energia aos preços spot caso entreguem menos que o previsto nos contratos.

Isso gerou uma preocupação, ao longo das discussões sobre o preço horário, de que a nova regra pudesse ter impacto negativo direto sobre parques eólicos, que muitas vezes têm produtividade maior com os ventos noturnos, quando a demanda está em baixa.

Mas análise do Acende Brasil com base em preços horários calculados em modo de testes pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) apontou que “não foram observadas diferenças sistemáticas entre os preços diurno e noturno” frente ao modelo semanal, com diferenças mais importantes registradas na comparação das cotações entre regiões do país.

Os investidores em geração precisarão ficar atentos, uma vez que mesmo a necessidade de comprar energia por instantes em momento de PLD muito alto pode minar horas de faturamento das usinas em horários de preços baixos (Imagem: Pixabay)

“Essa análise tira um pouco dessa conclusão (sobre as eólicas). Identificamos mudanças estruturais nos preços, estatisticamente significantes. Mas essa diferença não se materializa na forma de diferença de preços de uma hora em relação a outra, ela aparece mais forte e consistente entre regiões”, disse o diretor de Assuntos Econômicos e Regulatórios, Richard Hochstetler.

Ainda assim, os investidores em geração precisarão ficar atentos, uma vez que mesmo a necessidade de comprar energia por instantes em momento de PLD muito alto pode minar horas de faturamento das usinas em horários de preços baixos.

“Então não é que não vai impactar. O que estamos indicando é que não terá uma mudança no padrão diário, sistemática, que se vê todo dia uma variação naqueles horários. Mas isso ocorre de forma irregular, há períodos com discrepâncias… isso pode ser muito impactante para geradores, há um risco sim a ser considerado”, explicou Hochstetler.

A análise do instituto ainda apontou que o PLD horário resultará em geral em aumentos nos preços no Nordeste, onde concentram-se as eólicas e os parques solares, e no Norte.

Já no Sudeste e Sul os resultados da análise são semelhantes, mas tendem a apontar redução dos preços quando há divergências frente ao cálculo semanal.

“No Sudeste, na maior parte do tempo os preços (horários) ficam relativamente parecidos (com os semanais), com algumas exceções, e aí o que ocorre é geralmente queda do preço, com movimentos bem agudos, porque duram pouco tempo”, apontou Hochstetler.

“No Nordeste é um pouco o contrário –tem momentos em que o preço cai, mas a maior parte do tempo o preço horário, quando desvia (do semanal), tende a desviar para cima, com alguns picos mais demorados, mas alguns bem pontuais”.

“É interessante olhar a direção das mudanças. Os preços no Sudeste e no Sul têm sido mais altos que no Norte e Nordeste hoje, e quando você adota esse modelo (horário), mais granular, está fazendo a convergência. Então o preço do Sul e Sudeste, que era mais caro, está diminuindo, e do Norte e Nordeste aumentando, estão se aproximando na média”, acrescentou o diretor.

Os riscos relacionados à variação horária dos preços podem eventualmente ser mitigados pelas elétricas com uma aposta na diversificação de seus portfólios de ativos de geração, de forma que fontes com diferentes perfis de geração reduzam a possibilidade de exposição financeira ao PLD.

“Isso favorece a diversificação, como construção de usinas híbricas, parques eólicos e solares. E também, eventualmente, até o uso de baterias e outras formas de estocagem que possam dar mais controle para essas fontes que não são controláveis”, afirmou o especialista do Acende Brasil.

As análises do centro de estudos, publicadas no boletim periódico Programa Energia Transparente, tiveram como base simulações do preço horário divulgadas pela CCEE entre janeiro e junho deste ano.

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