Caio Mesquita: Uma no cravo e outra na ferradura
Por Caio Mesquita, CEO da Empiricus Research
“Oh, we’re not gonna take it
No, we ain’t gonna take it
Oh, we’re not gonna take it anymore
We’ve got the right to choose it
There ain’t no way we’ll lose it
This is our life, this is our song
We’ll fight the powers that be, just
Don’t pick our destiny ‘cause
You don’t know us, you don’t belong”
We’re Not Gonna Take It – Twisted Sister
Entramos na reta final do primeiro ano da administração Bolsonaro.
Tomando emprestado alguns temperos chineses da interminável novela da guerra comercial, fechamos a semana com um molho agridoce.
Começo pela parte doce.
Por um lado, testamos uma nova pontuação recorde na Bolsa brasileira, absoluta no seu empenho de mostrar que o bull market é uma realidade indisputável.
O vigor altista das nossas ações segue firme, surfando a migração em massa dos recursos dos investidores brasileiros, tanto institucionais como pessoas físicas, para a renda variável — o que um amigo e um dos melhores advogados do mercado de capitais classificou de “movimento tectônico” para a Bolsa de Valores.
A molezinha da renda fixa de curto prazo, que dava liquidez diária e garantia juros reais parrudos, acabou.
Como o presidente Bolsonaro disse nesta semana, estamos virando um país civilizado quando o assunto é juros. E como em qualquer país civilizado é preciso tomar risco quando se almeja retornos maiores, a nossa Bolsa vai subindo.
A outra dose de doçura da semana veio da equipe econômica do governo, que segue dando um show, empurrando as reformas que visam atualizar o país para o contexto do século 21.
Sob o comando de Paulo Guedes, o time do Ministério da Economia incrementou o molho da semana com um belíssimo conjunto de propostas legislativas.
Na linha de frente desse pacotão que chacoalha o “deep state” brazuca, estão as três propostas de emenda à Constituição (PECs) que alicerçam o Plano Mais Brasil:
A primeira PEC, do Pacto Federativo, traz mudanças na divisão de recursos entre União, estados e municípios. O espírito dessa proposta está representado pelos 3 Ds da reforma do Orçamento: desvinculação, desindexação e desobrigação na aplicação dos recursos.
A segunda PEC, a Emergencial, busca reduzir as despesas obrigatórias, abrindo espaço para investimentos públicos que tenham impacto positivo na economia.
E, por fim, teremos a PEC dos Fundos Públicos. A proposta trata dos fundos constitucionais e infraconstitucionais e promete liberar mais de R$ 200 bilhões para o abatimento da dívida pública.
Sigo entusiasmado com o vento fresco do choque liberal que vem aliviando décadas de sufoco estatizante brasileiro.
E, gradualmente, começam a piscar indícios de que a economia vem reagindo, sinalizando um 2020 mais risonho no quesito crescimento.
Um maior crescimento puxa para cima os resultados das empresas, fechando o ciclo que impulsiona a cotação das ações brasileiras.
Admito, todavia, que meu ânimo foi abalado na quinta-feira (7), com a trágica decisão do Supremo Tribunal Federal de por fim à prisão após decisão em segunda instância.
Isso completou o molho agridoce da semana.
Me abstenho de comentar a decisão em si, sob o risco de soar repetitivo diante da profusão de análises e opiniões que os milhões de brasileiros indignados não cansam de emitir.
Chamo a atenção do leitor apenas para o prejuízo que nossos ministros causaram ao Brasil.
Explico.
A segurança jurídica e a confiança no ordenamento jurídico e sua correta aplicação constituem a base sobre a qual os agentes econômicos transacionam.
Quanto maior a percepção de que tal ordenamento não será respeitado, vítima de interesses individuais e casuísticos, cresce a percepção de risco dos participantes e, consequentemente, as taxas de retorno exigidas. Quanto maiores as taxas, menor o valor dos ativos.
Movimentar o Supremo para reformar uma decisão tomada de forma colegiada há poucos anos, com o único e claro objetivo de livrar a barra de corruptos, especialmente a do ex-presidente Lula, é uma demonstração clara de que ainda somos, em muitos aspectos, uma “república das bananas”. E só se investe numa república bananeira quando se vislumbra algo bem barato e com um gordo retorno esperado.
É muito difícil não desanimar.
Para encerrar num tom mais ameno, agradeço a todos os nossos assinantes e leitores que nos parabenizaram pelos dez anos de aniversário da Empiricus.
Os depoimentos e as mensagens enviadas me emocionaram e reforçam o nosso comprometimento com a missão de transformar, para melhor, a vida financeira dos brasileiros.
Aproveito para fazer uma homenagem a todos os nossos colaboradores, que vêm tornando realidade o que sonhamos lá atrás, em 2009.
Parabéns a todos!