Caio Mesquita: Sobre lobos e cordeiros
Por Caio Mesquita, CEO da Acta Holding
Uma semana depois do furacão Bettina ter varrido o país, aproveito para fazer um balanço da gigantesca repercussão da campanha e esclarecer algumas das acusações e mal-entendidos sobre a Empiricus e o nosso modelo de negócios.
Mas antes queria compartilhar um interessante caso ocorrido em 2010.
À época, com Lula presidente, a Petrobras enfrentava o enorme desafio de desenvolver o pré-sal e flertava com perigosos níveis de alavancagem. Hoje sabemos que parte do problema vinha do maior esquema de corrupção da história da humanidade, mas deixo os detalhes para as páginas políticas e policiais. Afinal, o papo aqui é sobre finanças e investimentos.
A companhia precisava de mais capital próprio (patrimônio líquido), já que estava até a tampa de dívidas. O problema é que um aumento de capital exigiria que o governo comparecesse com parte dos recursos caso quisesse evitar diluição de participação e perda de controle.
As finanças públicas não permitiam tal desembolso, pois as pedaladas fiscais só viriam a ser implementadas no governo Dilma.
Encurralados, os artistas colocaram em pé um ovo de Colombo. O Tesouro Nacional subscreveria sua parte com o fundo do oceano Atlântico, aportando as reservas do pré-sal em troca das novas ações da Petrobras. Resolvido o problema do governo, o mico da diluição passou então para os acionistas minoritários, que teriam que usar dinheiro de verdade para subscrever as ações e, assim, manter suas participações.
Teve início, então, uma estratégia de guerra, à qual se juntou toda a musculatura dos agentes de mercado, para enfiar a operação goela abaixo dos investidores. Para viabilizá-la, montou-se um gigantesco sindicato de bancos e corretoras devidamente incentivados por gordas comissões (tabela abaixo). O esforço de vendas deu certo e, apesar de ferozes críticas por parte dos minoritários, a oferta teve sucesso e as ações foram subscritas.
Tempos depois, e atendendo a pressões, a CVM resolveu investigar como os analistas de valores mobiliários se posicionaram sobre a oferta. Afinal, dado o formato inédito e polêmico da transação, nada mais natural do que encontrar recomendações distintas e dissonantes sobre comprar ou não ações da Petrobras durante a oferta. Surpresa, surpresa… a CVM verificou que todos os analistas do mercado, com apenas uma rebelde exceção, recomendaram enfaticamente a subscrição das ações.
Ficou absolutamente escancarado para o regulador o conflito de interesses envolvido na atividade de análise. O que deveria ser uma pesquisa técnica e desinteressada, visando exclusivamente o aconselhamento da melhor estratégia ao investidor, era, na verdade, uma peça de convencimento dentro de uma brutal máquina de vendas.
A oferta de ações gerou 228 milhões de reais em comissões para os bancos, ou 128 milhões de dólares ao câmbio da época. Essa bolada serviu para encher os bolsos dos bancos e, consequentemente, pagar gordos bônus a seus executivos, inclusive aos analistas que recomendaram essa monstruosidade.
O episódio alertou a CVM da importância de proteger os analistas, todos funcionários das instituições em que trabalhavam, das pressões internas que direcionam suas recomendações para os interesses comerciais dos empregadores. A própria delegação de poderes entre a Comissão e a Apimec, a associação dos analistas profissionais, foi feita para dar amparo legal para a defesa dos analistas, apesar de ter sido feita de maneira inconstitucional.
O dano da operação foi tamanho que choques secundários ainda foram sentidos em 2011, com a absurda demissão de Alexandre Schwartsman do cargo de economista-chefe do Santander, após questionar publicamente o então presidente da Petrobras sobre a lisura do aumento de capital.
Narro esse fato passado para jogar luz aos conflitos inerentes à atividade dos analistas, e à necessidade, sim, de regulá-la. Usando a imagem de mau gosto publicada pela CVM em suas redes sociais, os analistas são uma das possíveis versões do lobo que veste a pele de cordeiro para tirar o dinheiro do desavisado.
Voltando ao exemplo da Petrobras, os cordeirinhos usaram bem-formatados relatórios de análise, com direito a todo linguajar técnico, exposição do racional de investimentos e infindáveis tabelas e gráficos, para demonstrar como era imperdível a oportunidade de investir nas ações da empresa. Todo o trabalho de “análise” realizado não passava de uma enorme conta de chegada para justificar a recomendação de investimento, efetivar a venda, gerar a comissão para o banco e repassar os recursos para o caixa da empresa estatal.
Agora contraste tal vicioso mecanismo com o modelo de negócios de publicações financeiras da Empiricus que, sob o foco dos holofotes de parte da opinião pública (e de muitos “especialistas”), foi tachado de causador da ruína financeira de velhinhas desprotegidas.
Como somos uma empresa de conteúdo, temos na venda das assinaturas a nossa fonte de receitas. E, como qualquer iniciativa que visa lucros, temos que fazer publicidade para encontrar compradores dos nossos produtos. E olha que a publicidade tem que ser boa, pois o que vendemos é oferecido “gratuitamente” na indústria financeira tradicional via relatórios, recomendações e até dicas de gerentes e agentes autônomos.
Depois da nossa publicidade, que não é um beijo na Bela Adormecida, mas um chacoalhão nas pessoas entorpecidas pelo sistema e pela falta de informação, algumas se animam e tornam-se assinantes da Empiricus. Elas tiram do bolso em média 10 reais por mês para ter acesso a ideias de investimento de altíssima qualidade, produzidas por nossa equipe de 30 especialistas, cujo único incentivo é ajudar o assinante a se informar, investir bem, ficar satisfeito e, consequentemente, seguir renovando sua assinatura.
Como empresa, a Empiricus só se viabiliza no longo prazo com a permanência dos assinantes, que renovam seus acessos. Nossos dez anos de existência e mais de 330 mil assinantes demonstram que estamos realizando nossos objetivos empresariais.
Continuando a sua jornada, de posse das nossas ideias de investimento, o nosso assinante se dirige a uma instituição financeira, passa pelos filtros de KYC (“know your client”) e suitability para, então, aplicar suas próprias economias em ativos financeiros. Ali, dentro da estrutura do mercado financeiro e de capitais, devidamente regulado e supervisionado, é que o investimento acontece.
Claramente, o que a Empiricus produz não pode ser comparado com a atividade do analista fomentador de negócios e trades dos bancos. Temos uma atividade puramente editorial, de criatividade. Qualquer tentativa de cerceá-la ou regulá-la tem nome: censura.
O nosso produto, isto é, as nossas publicações, é estruturalmente superior ao da indústria financeira em geral, pois é produzido num modelo de interesses alinhados. O assinante paga para recebê-lo e, caso goste, fica conosco, perpetuando a relação; caso contrário, deixa de nos assinar e vai embora.
É inacreditável que, em toda essa campanha de difamação direcionada a nós, ninguém se importou em perguntar o que pensa a figura mais importante dessa relação, o nosso assinante. Se está satisfeito com nossas publicações, se gosta do que escrevemos, se está feliz… enfim.
Enquanto os indignados acendem suas tochas e clamam por punição, excitados por matérias distorcidas e afirmações desprovidas de lastro, os brasileiros seguem perdendo dinheiro com investimentos ruins, promovidos à base de comissões pagas justamente para lobos disfarçados de cordeiros.
Quem comprou ações da Petrobras a 29 reais na “megacapitalização” de 2010 sabe do que eu estou falando.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Um abraço e boa leitura!
Caio
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