Colunista Empiricus

Caio Mesquita: Sobre fatos e suas interpretações

11 set 2021, 12:04 - atualizado em 10 set 2021, 18:36
Congresso
“Durante o feriado, a cobertura dos eventos do dia deu lastro à máxima de Nietzsche de que não há fatos, apenas interpretações”, diz o colunista (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

Caso você me acompanhe há algum tempo, já deve ter percebido que naturalmente me afasto das discussões políticas e dos temas que envolvem a cena de Brasília.

Faço isso não por desprezo ao jogo político, posto que é fundamental dentro de uma sociedade que se propõe a ser minimamente moderna.

Como brasileiro, pai de família e empresário, sou obrigado a seguir os acontecimentos do país. Porém, meu acompanhamento é feito com moderação, já que o noticiário diário é muito mais ruído do que informação.

Via de regra, a cobertura jornalística, amplificada pela acidez das redes sociais, atrapalha mais do que ajuda no entendimento da situação.

Não trato das questões políticas aqui por entender que a criação de valor, tema fundamental para os nossos investimentos, advém das relações privadas, a partir de combinações “ganha-ganha” entre pessoas, físicas e jurídicas.

Emprestando o slogan que Bolsonaro trouxe na eleição, rapidamente esquecido por ele, sou “Mais Brasil e menos Brasília”.

Desta vez, diante dos desdobramentos recentes da crise, especialmente o enfrentamento entre Executivo e Judiciário, turbinado pelas personalidades abrasivas do presidente Jair Bolsonaro e do ministro Alexandre de Moraes, vejo-me obrigado a trazer o tema aqui.

Nas conversas que tive na semana passada com analistas e gestores, havia uma preocupação consensual com as manifestações de 7 de setembro.

Temia-se por um possível aumento da tensão política e suas implicações para a estabilidade do país. Em momentos como este, lembramos da necessidade da diversificação geográfica, mitigando o risco Brasil.

Durante o feriado, a cobertura dos eventos do dia deu lastro à máxima de Nietzsche de que não há fatos, apenas interpretações.

O dissenso das redes sociais transbordou para a cobertura jornalística, que, ao mesmo tempo, classificava o quórum dos manifestantes como surpreendente ou decepcionante.

A reação do mercado no dia seguinte, com queda dramática nas ações brasileiras e altas vigorosas no dólar e no juros, demonstrava que, independentemente de quem estava correto sobre o sucesso das manifestações, havia certeza sobre o aumento da instabilidade.

As declarações do presidente, especialmente no discurso em São Paulo, esticaram ainda mais a corda, aumentando as chances de uma ruptura com consequências trágicas.

A quinta-feira começou com uma sequência de notícias ruins, apontando para uma tempestade perfeita no horizonte.

Somadas às respostas duras vindas do lado que foi atacado pelo presidente, tivemos ameaças de caminhoneiros e a divulgação de dados de inflação acima do esperado.

Foi neste cenário preocupante que fui para o estúdio aqui da Empiricus gravar o próximo episódio do Mesa pra Quatro, na tarde de quinta.

Durante nosso papo com o sensacional Arnaldo Cezar Coelho, o meu companheiro de podcast, Teco Medina, nos atualizou sobre a inesperada virada no mercado em resposta à “Declaração à Nação” do presidente Bolsonaro.

Sob a orientação do ex-presidente Michel Temer, talvez o maior craque político vivo do país, Bolsonaro optou por recuar, distendendo seu discurso e oferecendo trégua a seus antagonistas.

Podemos seguir especulando se houve uma mudança verdadeira no caráter combativo do presidente. Eu mesmo sou cético sobre isso, por tudo que sabemos da sua biografia.

Seja como for, temos que reconhecer que o gesto é bem-vindo, especialmente diante da alternativa que seria a manutenção, ou mesmo a amplificação, das tensões.

Ao pedir ajuda a Michel Temer, Bolsonaro parece ter optado por um tom mais conciliador, inclusive tendo reconhecido que as declarações do dia 7 estavam acima do tom, realizadas no “calor do momento”.

Confesso que termino a semana um pouco mais aliviado.

Para entender melhor as implicações deste último gesto do presidente para os nossos investimentos, chamei o Felipe Miranda para um papo nesta segunda-feira (13), às 19h. 

Vejo você lá.

Um abraço,

Caio.

P.S.: Como muitos de vocês sabem, nós aqui na Empiricus somos adeptos do liberalismo antes mesmo da fundação da empresa, em 2009. Na sexta-feira (17), nossos colegas do Instituto de Formação de Líderes (IFL) apresentarão o 8º Fórum Liberdade e Democracia, que contará com diversos debates e palestras com alguns dos maiores nomes da liderança do país e do mundo, dentre eles o ex-presidente Michel Temer e Daniel Goleman, psicólogo e autor de “Inteligência Emocional” e “Foco”. A Empiricus orgulhosamente é patrocinadora deste evento, e faço aqui o convite para que participem se cadastrando neste link.