Opinião

Caio Mesquita: Relação direta

15 dez 2018, 15:28 - atualizado em 15 dez 2018, 15:28

Por Caio Mesquita, CEO da Acta Holding

“O poder popular não precisa mais de intermediação. As novas tecnologias permitiram uma relação direta entre o eleitor e seus representantes. Nesse novo ambiente, a crença na liberdade é a melhor garantia de respeito aos altos ideais que balizam nossa Constituição.”

Foi assim que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, definiu em seu discurso de diplomação a nova natureza da relação entre representantes eleitos e a sociedade.

Tal declaração, como já é praxe em qualquer manifestação de Bolsonaro, gerou polêmica e foi alvo de críticas.

Em resposta, o editorial do Estadão do dia 12 colocou a própria democracia representativa em risco.

Intitulada “O perigo da democracia direta”, a peça acusa Bolsonaro de estar flertando perigosamente com a ideia de democracia direta, na qual se dispensam as instituições características do sistema representativo, sobretudo o Congresso.

O texto classifica as comunicações das redes sociais como “gritaria do submundo da internet” e diz que a nova forma de comunicação usada pelas pessoas não passa de um “burburinho anônimo e irresponsável”.

Cito o editorial do Estadão como um exemplo de como o establishment torce o nariz para o ainda recente fenômeno de uma maior participação da sociedade no intercâmbio de ideias e opiniões.

A própria eleição de Jair Bolsonaro (candidato com apenas oito segundos de TV e 1,5 milhão de reais para campanha) configura uma extraordinária mudança na forma com que as pessoas se informam e tomam suas decisões.

Seria uma traição espantosa, digna de um novo estelionato eleitoral, se Bolsonaro simplesmente virasse as costas e passasse a se comportar como um típico político tradicional, cujo único contato com a população ocorre apenas no breve período da disputa eleitoral.

Não é mais concebível imaginar um chefe de Estado higienizado por clippings de notícias e pronunciamentos ensaiados, ambos meticulosamente preparados por seus assessores.

Entendo os perigos da democracia direta e concordo com o Estadão no ponto de que devemos ser vigilantes para evitar a armadilha da ditadura da maioria, que historicamente termina em regimes totalitários e opressores.

Por outro lado, é imprescindível que as democracias modernas absorvam esses novos caminhos de expressão da sociedade. Não se pode e não se deve controlar a maneira como as pessoas se comunicam.

À frente da  Acta Holding, grupo que reúne publicadoras comprometidas com a defesa da democracia e da livre-iniciativa, me entusiasmo com toda e qualquer ação de disseminar e propagar ideais. E considero o risco das “fake news” um preço relativamente pequeno a se pagar em troca das possibilidades quase infinitas de transferência de informação dentro do ambiente descentralizado da internet.

Dentro de uma sociedade verdadeiramente democrática, a única maneira de se apurar a qualidade da informação está na seleção natural das fontes. Mentira e mentirosos têm perna curta e, cedo ou tarde, serão desmascarados e desacreditados.

Qualquer tentativa de tutela por parte do Estado é perigosa e fundamentalmente antidemocrática.

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