Opinião

Caio Mesquita: O timoneiro sumiu

23 set 2018, 7:41 - atualizado em 22 set 2018, 22:44

Por Caio Mesquita, CEO da Empiricus Research

“Eleição é como Copa do Mundo. Parece que ninguém está ligando, mas, quando começa, não se fala em outra coisa.”

Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas, deu essa declaração quando fizemos, na semana passada, uma live de apresentação dos resultados da pesquisa presidencial que encomendamos.

(Por sinal, dado o excepcional feedback recebido, encomendamos mais duas pesquisas ao Paraná, ambas presidenciais. A primeira delas será divulgada na próxima quarta-feira, dia 26. Para ser avisado, acesse este link.

Hoje, não discorrerei sobre as implicações da disputa eleitoral para as nossas finanças. Deixo isso para os nossos gurus, Felipe Miranda (Day One), na Empiricus, e Pedro Cerize, na Inversa ( Gritty Investor).

Quero chamar sua atenção para o fenômeno de termos um candidato de um partido pequeno, com apenas sete segundos no horário político, liderando amplamente as preferências.

A cada dia que passa, a cada pesquisa publicada, vai caindo por terra a viabilidade da candidatura de Geraldo Alckmin, apoiada em uma vasta coalizão de centro e seus intermináveis minutos na TV.

Do mesmo modo, os especialistas políticos também cravavam que Bolsonaro iria sucumbir, vulnerável por não ter palanque na TV aberta para fazer frente aos ataques.

Preferências eleitorais à parte, ninguém pode deixar de reconhecer a formidável capacidade de comunicação do candidato do PSL, particularmente, nos meios digitais. Seu sucesso simboliza a decadência não somente da grande mídia, mas de todo o consenso mainstream que dominava a nossa sociedade há anos.

Tal decadência não é exclusividade brasileira. A vitória de Trump nos EUA é um fenômeno análogo. Por lá, o empreendedor e pensador digital Jordan Greenhall, em seu blog no Medium, tem dedicado textos brilhantes ao fim da Igreja Azul.

E o que seria a tal “igreja”? Trata-se de uma metáfora do consenso liberal-progressista que vinha dominando as sociedades ocidentais desde o pós-guerra e que estava fundamentado na relação autoridade/audiência do sistema de comunicação em massa.

Essa igreja foi crucial para manter coesas as sociedades modernas, órfãs dos valores clássicos anteriormente desmontados pelos fenômenos culturais da segunda metade do século passado.

Segundo Greenhall, a estrutura de controle da Igreja Azul estava baseada em três características do ser humano:

– Somos indivíduos tentando constantemente nos certificar de que temos um status elevado dentro do bando;

– Temos muita dificuldade em distinguir entre “ter atenção” e “merecer atenção”;

– Aprendemos fazendo e copiando (e não pensando).

Resumidamente, estar na televisão era suficiente para obter status e relevância. A celebridade instantânea dos big brothers demonstrava isso com precisão.

Assim como o timoneiro de um barco a remo tem a função de comandar os remadores, o consenso encontrado nos meios de comunicação em massa é que mantinha coeso o ritmo da sociedade.

Faz-se mister notar que a existência da Igreja Azul viabilizou todo o crescimento da indústria de consumo. Gostos, preferências e, principalmente, ideias precisam ser uniformizadas para uma venda mais efetiva.

A internet, com suas redes sociais e distribuição digital, vem desmontando essa igreja. Como resultado, não há mais timoneiro, e os remadores vêm perdendo a sincronia.

No Brasil, nada representava melhor a Igreja Azul do que a Rede Globo, com suas novelas e telejornais. Os anunciantes participaram dessa lucrativa parceria e verdadeiros impérios foram criados.

Aguardávamos bovinamente as instruções recebidas e confiávamos na voz das autoridades cuidadosamente selecionadas.

Trazendo a discussão para o tema dos investimentos, a Igreja Azul atuava por meio do lucrativo consórcio dos grandes bancos e do formato de clube fechado do nosso mercado financeiro.
O timoneiro ditava o ritmo e assim seguíamos.

Empresas como as nossas não se viabilizariam dentro da estrutura clássica de comunicação, tradicionalmente cara e para poucos.

Você nunca teria acesso às ideias do Felipe, do Pedro, do Rodolfo, da Luciana, do Ivan, do Max. Seria condenado a continuar tomando cafezinho com o gerente daquele banco que “cuida de você”.

Nossos 300 mil assinantes deixaram a decadente Igreja Azul e estão muito mais bem servidos assim. Não há volta nessa estrada.

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