Opinião

Caio Mesquita: O Segredo Suíço

07 set 2019, 16:54 - atualizado em 07 set 2019, 16:54
Colunista discorre sobre descentralização do Estado e posições em libra, euro e mineradoras de ouro (Imagem: Empiricus)

Na noite da última quinta-feira, tive o privilégio de estar no mesmo ambiente que Nassim Taleb, sendo agraciado com o frescor de suas ideias e ângulos inusitados com que aborda os grandes problemas que nos afligem atualmente.

A Empiricus teve a honra de recepcionar o autor dos best-sellers “A Lógica do Cisne Negro” e “Antifrágil”, entre outros, para um jantar petit comité com alguns amigos assinantes do nosso plano Reserva. Nos beneficiamos de sua presença em São Paulo como uma das estrelas do 6º Fórum Liberdade e Democracia, organizado pelo admirável Instituto de Formação de Líderes (IFL).

Depois de uma emocionada apresentação do Felipe, e após matar um bem servido Negroni, Taleb abriu a noite modestamente, ao afirmar que é um cara de uma ideia apenas. E, como disse o Felipe, ter uma ideia é um tesouro num mundo onde a vasta maioria não tem nada a oferecer.

Apesar de tentar se esquivar do tema no começo, Taleb não conseguiu escapar dos juros negativos e da implicação desse novo fenômeno para os mercados e a economia global.

Para a minha surpresa, Taleb não só desqualificou a importância do problema como trouxe um ângulo similar àquele levantado pelo jornalista da Bloomberg que mencionei recentemente por aqui. Para o autor de “The Black Swan”, os juros negativos são, na verdade, o custo de armazenamento para guardar o dinheiro num ambiente de taxas zeradas.

“Isto não é novidade alguma. Durante a última Grande Guerra, poupadores de ambos os lados do conflito abarrotaram os cofres suíços e não esperavam nenhuma remuneração pelo dinheiro guardado, pelo contrário”, disse ele.

Posteriormente Taleb avançou sobre o estado atual da Economia e eu não poderia concordar mais com ele.

Resumidamente, a bomba monetária preparada pelos bancos centrais não pode mais ser desarmada sem causar estragos incontroláveis.

Mesmo zerando os juros para salvar bancos e instituições envolvidas e pegar a economia no tranco, desde 2008 o crescimento mundial tem sido medíocre. E as autoridades esgotaram sua reserva de truques.

Taleb confrontou as últimas grandes crises no mercados, o derretimento da Nasdaq em 2000 e a quebra do Lehman Brothers em 2008. Na primeira, o próprio mercado se incumbiu do ajuste, preparando as condições para o surgimentos das FAANGs da vida (Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google). Na última, as intervenções dos governantes de plantão impediram a devida reciclagem, salvaram moribundos e exacerbaram desequilíbrios.

Os culpados, segundo Taleb, são as gigantescas burocracias corrompidas pelos amigos do poder. O poder centralizado distancia-se das pessoas comuns e cria uma monstruosa estrutura, cujo único objetivo é se autoperpetuar. Citou os EUA e acusou Barack Obama de ser um ávido centralizador de poder em Washington, para deleite de poderosos e afins. E Trump, apesar do discurso eleitoral de redução do Estado, tem feito pouco para mudar isso.

Contrastou os EUA e os grandes países do mundo com a pequena Suíça, o país mais bem-sucedido do mundo nos últimos 200 anos, segundo Taleb. Num pequeno território, línguas oficiais e dezenas de Cantões que se odeiam criaram um oásis de prosperidade e estabilidade num mundo desequilibrado.

“Alguém sabe o nome do presidente da Suíça?” A pergunta de Taleb flutuou sem resposta.

Crie ou aumente impostos e você verá rapidamente o sistema encontrando maneiras de se apropriar dos novos recursos. Quanto mais distante e mais centralizado, mais fácil para a burocracia perpetrar o assalto aos nossos bolsos. Taleb citou Brasília como um bom exemplo do que está errado nessa relação parasitária entre poder e indivíduos.

E o que fazer diante disso tudo?

Taleb diz o que ele está fazendo.

Gosta de ouro, mas principalmente de ações de empresas mineradoras de ouro, devido a sua convexidade (maior potencial de ganho no cenário de valorização do ouro).

Tem posição também em libra, pois entende que há potenciais ganhos para o Reino Unido (com o Brexit) que não estão sendo precificados pelo mercado, como parcerias dentro da Commonwealth.

E está exposto ao euro, caso a situação americana se deteriore de vez.

Depois da lúcida e brilhante exposição, Taleb se sentou e jantou, assim como os demais convidados. E, para manter a originalidade, dispensou as opções de salmão ou cordeiro. Pediu um prato de queijos sortidos e degustou-os acompanhado de uma cachaça 12 anos “on the rocks” — um autêntico antifrágil.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Um abraço e boa leitura.

Caio

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