Caio Mesquita: O sapo virou príncipe
Não canso de me surpreender com a velocidade das mudanças das narrativas do mercado.
Da noite para o dia, em algum momento em janeiro, o sapo virou príncipe.
Nossa moeda começou a se apreciar, para o alívio daqueles que, como eu, ousaram passar as férias em locais de moeda forte.
O destaque, contudo, têm sido as ações brasileiras. Engatamos um mini rali neste começo de ano, na direção contrária às principais Bolsas do mundo, que tiveram o pior início em muitos anos.
A intensa movimentação dos mercados fica por conta das especulações quanto ao aumento na taxa de juros definida pelo Fed. No seu discurso desta quarta-feira, Jerome Powell, chefe da autoridade monetária americana, mostrou notada preocupação com o grau de aquecimento na atividade do país, com implicações para o nível de preços.
O mercado de trabalho está especialmente apertado. Enquanto escrevo esta newsletter, na sexta-feira, o Departamento de Trabalho anunciou que o ECI (Employment Cost Index) aumentou 1% no último trimestre de 2021, o terceiro aumento trimestral consecutivo. Na comparação com o ano passado, o ECI subiu 4,5%, o maior aumento registrado desde 2001.
Nas minhas férias, vi anúncios nas vitrines dos comércios oferecendo vagas para preenchimento imediato, inclusive mostrando salários e benefícios.
A placa de uma lanchonete em Miami Beach oferecia US$ 13 por hora para quem quisesse cuidar do caixa do estabelecimento. A remuneração acima de R$ 15 mil por mês não parece animar os eventuais candidatos.
Enquanto o mercado inicialmente projetava três aumentos consecutivos, agora o consenso caminha para cinco incrementos nos Fed Funds.
Mais juros, maior a taxa de desconto na precificação dos ativos. Quanto mais futuros forem os fluxos, menor o valor presente. Assim, ações das empresas cujo valor é justificado no sucesso de um futuro distante têm sofrido, em particular as chamadas “non-profitable” techs.
Com mais juros nos Estados Unidos, o senso comum indicaria que mercados emergentes, nos quais estamos incluídos, deveriam sofrer. O dinheiro tenderia a se dirigir ao dólar, com investidores vendendo suas posições em outros mercados.
Aqui, porém, há uma nuance que parece explicar a boa performance brasileira das últimas duas semanas.
O derretimento do “non-profitable” tech, incluso também o mercado cripto, vem gerando um refluxo aos mercados emergentes, que volta a focar suas atenções em empresas lucrativas e geradoras de caixa.
O próprio brasileiro vinha gastando tempo e investindo dinheiro em Teslas e cripto, em detrimento de empresas tupiniquins tradicionais.
Com juros mais altos por lá, o fluxo começa a se inverter, valorizando o real e as nossas ações.
Ajuda também o movimento ao centro que o ex-presidente Lula tem feito. Especula-se ainda que nomes que fizeram parte do seu bem-sucedido (do ponto de vista econômico) primeiro mandato colaborariam novamente caso Lula vença as eleições deste ano.
Apesar de mais animado, porém, o mercado ainda busca maior consistência para confirmar a tendência
As próximas semanas merecem ser acompanhadas de perto.
Deixo vocês agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,
Caio
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