Colunista Empiricus

Caio Mesquita: O maior de todos

26 mar 2022, 12:02 - atualizado em 26 mar 2022, 11:54
Caio Mesquita, Empiricus
Em uma semana em que os mercados deram mais conforto aos investidores brasileiros, Caio Mesquita deixa sua homenagem ao “maior de todos” (Imagem: Divulgação/Empiricus)

Aos 24 anos, ao se apresentar ao líder de sua futura banda, disse apenas:

“Sou o maior baixista do mundo.”

Confiante e humilde, como Adam Grant define aqueles fadados ao sucesso, o músico cumpriu rigorosamente o prometido, ajudando a elevar o grupo ao topo do seu gênero, com enorme sucesso de crítica e público.

O nome da banda era Weather Report, maior expressão do jazz fusion, e o músico, o genial Jaco Pastorius.

Nascido John Francis Anthony Pastorius III, em 1951, na Pensilvânia, Jaco cresceu no ensolarado sul da Flórida.

Na adolescência, Jaco foi um “all american boy”. Competitivo, destacou-se em todos os esportes, beisebol, basquete e futebol americano. Quando quis comprar seu primeiro instrumento, uma bateria, seguindo a vocação do seu pai músico, juntou dinheiro percorrendo a vizinhança entregando jornais.

Ainda jovem, praticando esportes, Jaco acidentou-se, machucando seu pulso. A lesão afasta-o dos campos e da bateria, substituída pelo contrabaixo. Com o novo instrumento, Jaco elevou a música ao seu propósito de vida, tocando de dia, na escola, e de noite, nos bares da cidade.

Ainda sem saber ler música, o jovem Jaco inspira-se nas lendas do jazz para desenvolver sua técnica. Aos 17 anos, recebe elogios da viúva de John Coltrane após enviar a ela sua versão do standard de Pee Wee Elllis, “The Chicken”.

Empolgado com o incentivo, Jaco adquire um baixo acústico, no melhor estilo dos mestres do gênero, logo aposentado por conta da dificuldade em mantê-lo afinado dado o clima úmido de Fort Lauderdale. Para substituí-lo, o músico retira, com uma faca de manteiga, os trastes de um Fender Jazz Bass, que assim adquire o tom quente e macio do seu equivalente acústico, a marca registrada do estilo de Jaco. O instrumento é então batizado de “Bass of Doom”.

O maior de todos e seu “Bass of Doom”

Depois de completar o ensino médio, o músico profissionaliza-se e começa a viajar incessantemente a trabalho. Antes de completar 19 anos, nasce a primeira filha de Jaco, um ano após casar-se com Tracy.

Enquanto trabalha com artistas da cena local, Jaco dedica essa fase de sua vida a aprimorar sua técnica. Aprende rapidamente a ler partituras e a desenvolver arranjos musicais, conseguindo tornar-se professor de baixo na Universidade de Miami.

O ano de 1975 marca a grande virada na carreira de Jaco. Contratado pela gravadora Epic Records, grava seu disco solo intitulado “Jaco Pastorius” e torna-se sensação entre os aficcionados de jazz ao redor do mundo.

Depois de tocar com astros do rock, como Ian Hunter, e do jazz, como Pat Metheny, Jaco Pastorius conhece Joe Zawinul, aquele ao qual se apresentou como “o maior baixista do mundo”. Com Zawinul e seu Weather Report, Jaco atinge fama mundial. A segunda metade da década de 1970, os anos de ouro do músico, consagra-o como o melhor de seu instrumento.

A chegada dos anos 1980 inverte a trajetória do arco da vida de Jaco, embicando numa espiral negativa. 

O seu comportamento errático na turnê de 1981 no Japão, sua derradeira com o Weather Report, passa indícios das fragilidades que progressivamente deterioram sua carreira e sua vida.

Álcool e drogas começam a afetar suas performances ao vivo. 

Nem o novo casamento, desta vez com Ingrid, com quem teve gêmeos, consegue dar estabilidade a Jaco. Passa mais tempo em Nova York, virando noites sob influência de substâncias, em detrimento de sua vida familiar na Flórida.

A sensibilidade da alma de Jaco, cuja delicadeza traduziu-se no seu gênio musical inspirador, não resistiu ao seu comportamento abusivo.

Agravando seu prognóstico, o músico foi diagnosticado com transtorno bipolar. Com longos períodos de depressão, intercalados com breves fases de euforia, ele foi se desintegrando rapidamente.

Com ofertas de trabalho cada vez mais raras, Jaco deixou de ter residência fixa. Passou a morar na rua, pernoitando nos bancos dos parques de Nova York.

O fim da linha veio quando, após sair de um show de seu ídolo Carlos Santana, envolveu-se em uma confusão em um bar “after-hours” de Fort Lauderdale. Lá foi espancado até ficar inconsciente por um segurança. Com traumatismo craniano, entrou em coma e, em 21 de setembro de 1987, Jaco Pastorius, o maior baixista de todos os tempos, morreu, semanas antes de completar 36 anos.

Ao contrário de um diamante raro, o brilho de Jaco Pastorius era inversamente proporcional à sua fragilidade.

De alguma forma, sua essência foi feita para reluzir e se dissipar.

Sua arte, porém, segue duradoura e perene, enchendo os corações e acariciando os ouvidos de todos que seguem se emocionando com sua música.

Em uma semana em que os mercados deram mais conforto à alma dos investidores brasileiros, deixo aqui a minha homenagem ao maior de todos.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço,

Caio.

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