Colunista Empiricus

Caio Mesquita: O importante é competir

07 ago 2021, 12:04 - atualizado em 07 ago 2021, 7:26
Olimpíadas Tokyo
“Nos tempos atuais, há cada vez mais um certa resistência e até desprezo pela competição, especialmente da turma do politicamente correto”, afirma o colunista (Imagem: REUTERS/Issei Kato)

Talvez um dos maiores prazeres da paternidade seja revisitar experiências já vividas pela ótica dos nossos filhos.

Como entusiasmado que sou por esportes, sempre curti demais os Jogos Olímpicos.

Desde Montreal, em 1976, minha primeira memória do evento, sigo fascinado pelos feitos desses super-heróis que desafiam o limite da capacidade humana.

Nesta versão nipônica dos Jogos, coube a minha filhota do meio, Valentina, me acompanhar nos eventos que o fuso horário permite a uma pequena de 7 anos.

A Isabella, a mais velha, já tem memórias da versão anterior, no Rio. E o pequeno David ainda não tem demonstrado interesse pelos Jogos.

Valentina, porém, está empolgada com a novidade. Cada modalidade esportiva, com seus participantes, causa a ela curiosidade e admiração.

Das pequenas e esbeltas ginastas às musculosas representantes do atletismo, a minha filha presta mais atenção às participantes femininas, de alguma forma mais próximas ao seu universo de menina.

O embate entre nações, com os seus representantes uniformizados com as cores de origem, também mexe com a curiosidade e a imaginação de uma criança, com atletas de diferentes etnias mostrando como o mundo é vasto e diverso.

De uma forma natural, Valentina se juntou a mim na torcida pelo Brasil. Sorte dela que hoje temos mais alegrias que as humildes duas medalhas de bronze conquistadas em Montreal, sendo uma do meu ídolo de infância, João do Pulo.

Também de forma natural, minha filha compreende e se engaja com o espírito competitivo do esporte. A tensão da disputa que se resolve com o resultado final, coroando vitoriosos e frustrando derrotados, é um resumo preciso da existência humana.

Não é à toa que as histórias dos atletas nos emocionam e fascinam. O esporte reforça em nós valores fundamentais para o nosso desenvolvimento.

É improvável pensar num vencedor olímpico sem trazer conceitos como empenho, disciplina e perseverança.

Dedicar-se a uma atividade esportiva com ambições competitivas é, como qualquer projeto de longa maturação, abrir mão de recompensas imediatas e vazias em prol de um futuro melhor e recompensador.

E, assim como todas as coisas que realmente valem à pena em nossa vida, um enorme exercício de fé no futuro, sem nenhuma garantia de que será realmente realizado.

Valentina, assim como qualquer criança de sua idade, estuda e seguirá estudando por anos a fio. Qual será o seu futuro profissional, obviamente ninguém sabe. Existe nela, porém, assim como em todas as crianças que têm acesso à educação, um senso de dever a ser cumprido, alimentado pelas orientações de pais e tutores.

A dedicação não é condição suficiente, mas certamente é necessária para o sucesso de um atleta, de um estudante, de um profissional.

O empenho em tirar o melhor de si em busca da conquista está no cerne do espírito competitivo que norteia aqueles que almejam evoluir e realizar seus sonhos.

Nos tempos atuais, há cada vez mais um certa resistência e até desprezo pela competição, especialmente da turma do politicamente correto.

Ao acompanhar a cobertura das Olimpíadas, percebe-se alguns sinais de que a disputa é um valor questionável. Cheguei inclusive a ouvir uma comentarista do SporTV fazendo referências de que tudo isso não passa de uma invenção do patriarcado branco.

O episódio dos dois saltadores que dividiram a medalha de ouro pode ser interpretado de diversas maneiras. No limite, porém, se toda a disputa terminasse nesse tipo de acordo, muito do que apreciamos na disputa esportiva se perderia.

É verdade que o Barão de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos modernos, declarava que o importante não é vencer, mas sim competir.

O barão estabeleceu, em seu ideal olímpico, que a vitória em si não é medida de valor, mas a dedicação integral em sua busca, sim. Note que ele disse que a competição é o que importa, e não a mera participação.

Querer investir melhor passa por se engajar no tema. Ao final, buscamos uma rentabilidade maior para o nosso patrimônio. Isso requer interesse, dedicação e, por que não, espírito competitivo de extrair o melhor retorno para nossos investimentos.

De um lado, assim como atletas olímpicos, não há garantia de retorno, mas riscos que devem ser medidos e encarados.

Por outro, aqui não há pódio, mas uma construção permanente, de longo prazo, de um legado que justifica todo o empenho dedicado desde que nos conhecemos por gente.

Um abraço,

Caio.

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