Caio Mesquita: O governo sumiu
Por Caio Mesquita, CEO da Empiricus Research
Estamos observando um verdadeiro fenômeno político.
Não falo aqui da campanha eleitoral para presidente, certamente a mais bizarra corrida eleitoral desde a redemocratização brasileira. Isso tem a ver com o futuro, 2019 em diante.
Falo de 2018, o ano que não tivemos governo.
Desafio alguém a citar o nome de mais de três ministros. Não vale consultar o Google nem a Wikipédia. Tem que ser de cor mesmo.
Acredito que você não esteja sentindo falta, né? Na prática, como tenho escrito aqui semanalmente, a vida do pagador de impostos no Brasil é pagar impostos, pois pouco ou quase nada vem em contrapartida.
Na realidade, o presidente termina sendo um grande “downside” para todos nós, como pudemos vivenciar nos governos petistas, especialmente depois de 2008.
A atual tensão pré-eleitoral está focada justamente nos cenários negativos ligados à possibilidade de termos um novo governo de esquerda no comando do Brasil.
Não consigo ver a contrapartida disso, ou seja, pessoas verdadeiramente animadas com as perspectivas econômicas de o país ser governado por um representante do centro ou da direita.
Votamos mais por medo e menos por convicção.
Mas isso é para 2019. Quero voltar a 2018.
Veja bem, a inexistência de governo no Brasil é um bem em si. Então, se fosse para ir tocando, ou seja, se o jogo estivesse com placar em nosso favor, eu repetiria Michel Temer com sua já clássica “tem que manter isso, viu?”. Afinal, o saldo líquido da atuação dos governos para nós, pagadores de impostos, é enormemente negativo. Infelizmente, porém, a situação do país é insustentável e a necessidade de reformas profundas se faz urgente.
Estamos ajoelhados, prostrados com o peso de um obeso zumbi nas costas. E esse zumbi só fez engordar nos últimos 20 anos.
Note que o gráfico acima mostra a arrecadação do governo. A real mordida é substancialmente maior, dado o nosso déficit público atual de 7 por cento do PIB. Estamos falando, portanto, de um custo total do zumbizão de 40 por cento de tudo o que é produzido anualmente no Brasil.
Nesta semana, o jornal britânico Financial Times expôs ao mundo o nosso drama em uma longa matéria que chama a máquina pública brasileira de Robin Hood às avessas.
Embora não contenha nenhuma surpresa em particular, o conteúdo choca ao juntar tantas distorções que estrangulam nossa nação.
Em comum a todas as molezas e ajudas oferecidas pela Viúva, observa-se a atuação de grupos de interesse empenhados em tirar seus nacos.
Somam-se ao óbvio inchaço da administração pública jabuticabas como o Sistema S (Sesc, Senac, Sesi, etc.), a Zona Franca de Manaus, o Simples Nacional, o BNDES, as aposentadorias e pensões do funcionalismo público e até mesmo a meia-entrada de estudante.
Tudo isso devidamente bancado por nós, contribuintes e consumidores.
Em resumo, a máquina pública brasileira é um enorme agente de transferência de renda do setor produtivo para o setor de zumbis.
Entendo que a esquerda não veja assim, até porque ela segue uma lógica própria, distante da razão e das evidências empíricas.
Fiquei chocado, porém, quando ouvi, nesta semana, um comentarista de uma das rádios com maior audiência aqui de São Paulo defender o aumento de impostos, inclusive a taxação de dividendos, como arma de distribuição de renda.
Dizia ele que o Brasil é um dos países com renda mais concentrada e que, portanto, deveria cobrar mais dos ricos, já que eles podem pagar mais. Assim como o próprio comunismo, ideias assim têm certo apelo teórico, mas são facilmente desmentidas pela realidade.
Afinal, o aumento dos impostos no Brasil não distribui renda. A tributação simplesmente transfere riqueza para os grupos de interesse. Não é à toa que o Distrito Federal tem de longe a maior renda per capita do país.
Além das falas de João Amoedo e de Bolsonaro quando incorpora Paulo Guedes, não vejo nenhum candidato preocupado com o que acabei de descrever.
Lamentável.