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Caio Mesquita: Novos tempos

10 jul 2021, 12:03 - atualizado em 08 jul 2021, 19:07
Eduardo Saverin
Eduardo Saverin não é somente o mais rico do Brasil, mas também o mais moço da lista da Forbes (Imagem: Wikimedia Commons/Gravesv38)

Aprendemos nesta semana que existe um novo líder na tabela do Brasileirão dos bilionários elencados pela revista Forbes.

Depois de anos revezando no topo com o recém-falecido Joseph Safra, Jorge Paulo Lemann não é mais o homem mais rico do Brasil, título agora transferido ao jovem Eduardo Saverin.

Dou ênfase à juventude de Saverin pois ele não é somente o mais rico da lista, mas também o mais moço.

Em seus menos de 40 anos de idade, o brasileiro radicado em Cingapura acumulou a formidável fortuna de quase US$ 20 bilhões, ou mais de R$ 100 bilhões.

Saverin, com idade para ser neto do ex-banqueiro Lemann, amealhou seu vasto patrimônio ao fundar em 2004, junto com Mark Zuckerberg, o Facebook, hoje uma das empresas mais valiosas do mundo.

A comparação das trajetórias empresariais dos dois brasileiros joga luz à rápida transformação pela qual passa o mundo dos negócios, especialmente o choque entre as chamadas velhas e novas economias.

Lemann, mais conhecido de nós brasileiros, talvez seja o maior empresário que este país já teve.

Depois de criar o mítico Banco Garantia, expoente do mercado de capitais brasileiro dos anos 1980 e 1990, Lemann foi gradualmente voltando sua atenção a setores não financeiros, juntamente com seus sócios (e também top 10 da Forbes), Carlos Sicupira e Marcel Telles.

Em seu formidável currículo pós-Garantia, Lemann adquiriu as tradicionais Lojas Americanas e Cervejaria Brahma. Esta última, junto com sua rival Antarctica, formou a Ambev, referência em gestão empresarial no Brasil.

Depois disso, Lemann e sócios ampliaram seus horizontes. A Ambev tornou-se InBev ao juntar-se com a gigante belga Interbrew. Não satisfeito, o brasileiro trouxe a americana Budweiser ao seu império de bebidas, tornando sua companhia a maior fabricante de cervejas do mundo.

Além da Budweiser, Lemann comprou outras empresas americanas de destaque, como a rede de lanchonetes Burger King e a alimentícia Kraft Heinz, esta última adquirida em companhia com ninguém menos que Warren Buffett.

Há ainda outras participações societárias e investimentos da 3G Capital, nome da firma de investimentos de Jorge Paulo Lemann e seus sócios, mas os principais são os destacados acima.

Agora vamos a Saverin.

O brasileiro foi colega de faculdade (Harvard) de Mark Zuckerberg quando o Facebook foi criado. Sua participação societária inicial foi de 30% do capital da empresa e Saverin colocou US$ 15 mil do seu próprio bolso para começar o negócio.

Saverin é hoje o homem mais rico do Brasil por poucos meses de performance insatisfatória que teve no Facebook (Imagem: Unsplash/neonbrand)

Sua jornada na empresa durou menos de um ano, quando Zuckerberg, insatisfeito com a baixa contribuição do brasileiro para o negócio, promoveu uma reestruturação societária que diminuía em dois terços a participação de Saverin.

Segundo Zuckerberg, Saverin falhou nas três tarefas das quais foi incumbido: criar a empresa, levantar dinheiro e montar o modelo financeiro.

A gota d’água para Zuckerberg aconteceu quando Saverin postou anúncios considerados irregulares na rede social, promovendo uma outra startup criada pelo brasileiro.

Ao perceber o golpe societário, Saverin decidiu contra-atacar, processando Zuckerberg por manobras irregulares visando à diluição de sua participação.

Anos depois, a disputa foi resolvida, com o brasileiro recebendo cerca de 2% do capital do Facebook, à época avaliados em US$ 2 bilhões.

E é isso.

Saverin é hoje o homem mais rico do Brasil por esses poucos meses de performance insatisfatória que teve no Facebook.

É verdade que Saverin segue na ativa, liderando um fundo de investimentos em novas empresas asiáticas. Porém, a contribuição das atividades pós-Facebook para sua fortuna são meramente marginais.

O grande mérito de Saverin talvez seja sua decisão em não se desfazer totalmente do bloco de ações recebido quando de seu acordo com Zuckerberg.

Poucos teriam a visão de não diversificar e manter a quase totalidade do seu patrimônio em ações da empresa comandada por aquele que era, à época, seu maior inimigo. Um enorme desafio, especialmente quando lembramos que Saverin tinha menos de 30 anos de idade quando resolveu sua disputa com o Facebook.

Um abraço,

Caio.

P.S.: Nesta semana, Dan, Teco e eu (Caio) recebemos no Mesa Quadrada o campeão dos ringues e da vida, Demian Maia. Confira!