Opinião

Caio Mesquita: Gente como a gente

28 out 2018, 14:33 - atualizado em 28 out 2018, 14:33

Por Caio Mesquita, CEO da Empiricus

Depois de quase 18 meses de reforma, finalmente estou de mudança para o meu novo apartamento.

É bem provável que você já tenha passado por experiência semelhante. E a minha reforma foi a mais padrão possível, com direito a todas aquelas dores de cabeça que a gente conhece.

A reforma demorou duas vezes mais que o previsto e custou três vezes mais que o orçado incialmente. E quanto mais se gasta (e mais tempo demora), maior a chance de se tomar decisões que levam a novos atrasos e gastos adicionais. O conhecido “efeito Jacques”…

“Já que estamos mudando a parte elétrica, vamos dar um upgrade no sistema de ar condicionado.” 

A lógica perversa é amplificada pelo lado emocional da coisa, pois se trata do nosso lar, ou seja, envolve a vida e o bem-estar daqueles que mais amamos.

Todo o estresse envolvido termina por afetar a harmonia do casal. Tive brigas e discussões frequentes com a Larissa, minha mulher, algo que, imagino, todos enfrentem diante de situações semelhantes.

Quanto aos fornecedores, posso dizer que o saldo foi positivo. Houve erros, é óbvio, mas eles foram corrigidos sob a exigente supervisão da minha esposa.

A nota desagradável ficou pela péssima experiência com o fornecedor de móveis planejados. A sucessão de erros resultou em dois meses de atrasos. Para tentar uma solução, marquei uma reunião com o dono da empresa, depois de ameaças do meu advogado, dentro de uma bem-montada loja na alameda Gabriel Monteiro da Silva, endereço das melhores empresas do ramo de decoração aqui de São Paulo.

A conversa foi tensa. A minha expectativa de encontrar um mea-culpa e receber um pedido de desculpas foi frustrada. Ouvi justificativas vazias de um senhor que se orgulhava de ter uma empresa com “85 anos de mercado”. Ao final, consegui que ele assinasse um termo, redigido a mão, comprometendo-se com uma data de entrega sob pena de multa diária.

Ouvir do proprietário que a empresa dele tem 85 anos de mercado só me deixou mais indignado, além de não resolver o meu problema. Trata-se, obviamente, de um herdeiro de herdeiro. E a maneira como trata seus clientes demonstra sua desconexão com o negócio. Provavelmente será engolido em breve por uma concorrência mais competente, gente com “skin in the game” de verdade.

Voltei ao escritório depois da reunião. Encontrei o Felipe e o Rodolfo… escrevendo. Da mesma maneira que fazem desde que começamos este negócio, nove anos atrás.

Nós começamos, literalmente, do nada. Eu, mais velho e com certas economias acumuladas, entrei com uma grana. Eles, jovens e talentosos, entraram com o trabalho. Sempre com o mesmo objetivo: trazer para as pessoas boas ideias de investimentos e viver disso.

Não herdamos nada. Não ganhamos nada. Tudo foi incansavelmente conquistado com trabalho duro e perseverança. Sem incentivos, padrinhos, amigos poderosos ou conexões políticas. Apenas esforço e dedicação.

No caminho, fomos encontrando pessoas parecidas conosco, dedicadas a fazer algo diferente e autêntico.

É provável que o sucesso da Empiricus , do Antagonista, da Inversa, da Jolivi, esteja na nossa ligação direta com o leitor que, como nós, desiludiu-se com o que encontra nos meios de comunicação tradicionais.

Tal ligação também existe nos Estados Unidos, onde nossos sócios da Agora seguem crescendo e amealhando leitores e assinantes.

E assim seguiremos. Sob qualquer governo, de esquerda ou de direita.

Para nós, nada muda. Acordaremos cedo e voltaremos para casa à noite. Com o esforço do nosso trabalho, pagaremos nossos boletos e cuidaremos das nossas famílias, cumprindo com as nossas responsabilidades.

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