Opinião

Caio Mesquita: De volta para o futuro

12 jan 2019, 21:29 - atualizado em 12 jan 2019, 21:29

Por Caio Mesquita, CEO da Acta Holding

Visitei os Estados Unidos pela primeira vez em 1981.

Passados tantos anos, ainda lembro vividamente do andar térreo da então sede da Polícia Federal, em São Paulo, onde fui obter o passaporte para a minha primeira viagem internacional.

Era uma repartição apertada e barulhenta, mas desfrutei de cada momento, me imaginando um viajante internacional, esperando a autorização para partir.

Semanas depois, meu pai me entregou o caderninho verde… novo em folha. Transferiu-me a responsabilidade de cuidar eu mesmo do documento.

E assim o fiz. Passaporte devidamente guardado na minha gaveta da escrivaninha, com outras relíquias de um menino de 13 anos.

A mais valiosa, sem dúvida, era o caderno de autógrafos do Corinthians Campeão Paulista de 1979. As assinaturas foram coletadas durante uma visita ao Parque São Jorge promovida pelo meu primo Gilberto. Ter conhecido pessoalmente Sócrates e Palhinha, meus ídolos absolutos, na idade em que nada é mais importante que futebol, é uma das memórias mais alegres da minha infância.

Pouco antes da viagem, meu pai pediu o passaporte de volta. Precisava comprar dólares. Curioso, quis entender por que ele precisava do meu documento de viagem para comprar a moeda americana.

“Filho, todos temos direito a comprar uma cota de dólares quando vamos viajar e, como somos quatro aqui na família, vou comprar o equivalente a cada um de nós.”

Imagino que deva ter sido mais ou menos assim a explicação que ouvi.

Dias depois, o passaporte me foi devolvido, já com um primeiro carimbo mesmo antes da viagem. Comprovava que eu havia exercido meu direito de comprar dólares na cotação oficial.

Sem compreender à época os meandros do mercado de câmbio (não entendo até hoje!), eu tinha uma noção de que o acesso a dólares era escasso e, portanto, controlado.

O Cid Moreira comunicava todas as noites, no Jornal Nacional, o valor da cotação do dólar oficial e do dólar paralelo, e a grande diferença era suficiente para que um menino entendesse que comprar algo mais barato era um privilégio.

Semanas depois, durante a viagem, pude ver os traveler’s checks do meu pai (da American Express) que iam sendo trocados a cada compra. Completando o funding da viagem, ele carregava também dólares em papel-moeda, devidamente adquiridos com o doleiro da agência de viagens.

Enfim, era um rolo.

Não sei o que impressionaria mais o Moacir (meu pai) se ele fosse teletransportado para os dias de hoje. A tecnologia que permite fazer transferências internacionais por meio de um aplicativo de celular ou a possibilidade de comprar dólares livremente, quando e como você bem entender.

O dinheiro virou bits de informação e circula junto com a profusão de dados que jorram todos os dias dos meios digitais. Tudo conectado e instantaneamente.

E, mesmo assim, quando se trata de investimentos, ainda estamos presos no passado longínquo, junto com carros de duas portas e computadores Prológica.

Olhamos os mercados internacionais apenas como referência e influência do que acontece aqui, não como oportunidades a serem aproveitadas.

Apesar de seu gerente ou assessor não lhe contarem – nem podem por restrição do Banco Central –, não existe absolutamente nada que nos impeça legalmente de investir lá fora com a mesma naturalidade com que aplicamos em um fundo DI.

Apple, Google, Facebook, Nike fazem parte do nosso dia a dia. Assim como velhos conhecidos, como Volkswagen, GM, Coca-Cola, McDonald’s, Nestlé… e por aí vai.

Investir em ações internacionais deveria ser tão natural quanto assistir a uma série na Netflix ou ouvir uma playlist no Spotify.

O Brasil parece estar melhorando, cada vez mais distante de delírios socialistas. Ainda assim, devemos sempre manter a cautela e proteger parte do nosso patrimônio das eventuais tempestades tropicais.

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