Caio Mesquita: Brasil, um oásis de tranquilidade
Por Caio Mesquista, CEO da Acta Holding
Um amigo me disse que encontrou a melhor forma de antecipar movimentos, particularmente os altistas, na cotação do dólar vs real.
Em vez de usar modelos econométricos ou sofisticados algoritmos de negociação, ele utiliza a data de vencimento da fatura do cartão de crédito após uma viagem ao exterior como o melhor preditor para subidas do dólar.
Ainda segundo ele, a viagem que fez no mês passado à Califórnia, com direito a roteiro de vinhos em Napa e partida do Lakers (com LeBron James) no Staples Center, foi a “causadora” da alta do dólar nesta semana, já que sua fatura vence todo dia 5.
Por conta disso, já estou sofrendo por antecipação aqui na pessoa jurídica, já que o Felipe e o Rodolfo estão desde segunda em Nova York participando de um curso de valuation de empresas de tecnologia na Universidade Columbia, minha alma mater. Já posso contar com uma puxada do dólar no dia que vencer a fatura do cartão corporativo. É batata!
O fato de o mês de novembro ter registrado a maior saída de dólares do país em dez anos, conforme reportagem de Eduardo Campos para o Seu Dinheiro, também pode ter tido algum peso, mas a fatura do cartão do meu amigo foi sem dúvida o fator preponderante.
Brincadeiras à parte, nesta semana o dólar voltou ao nível de 3,90 reais. Dor de barriga generalizada lá fora, Bolsas americanas corrigindo forte e muita preocupação com o rumo das conversas entre EUA e China sobre acordos comerciais. A prisão da CFO da Huawei, gigante chinesa de telecom, não ajuda a acalmar os ânimos.
Como sempre, outros aspectos contribuem para os movimentos observados.
Os especialistas focaram sua atenção no tal do “achatamento da curva de juros” do mercado americano, o que seria o prenúncio de uma recessão nos EUA em um futuro próximo.
Mas o que seria o tal do achatamento (“flattening”) da curva de juros?
Normalmente, a curva de juros, ou seja, o gráfico que mostra a taxa de juros para cada período de vencimento, tem um formato ascendente. A explicação para isso é que os investidores exigem um prêmio para deixarem seu dinheiro investido no longo prazo, portanto, quanto mais longo o vencimento, maior a taxa de juros, dado um certo risco de crédito.
Acontece que a diferença entre a taxa dos títulos públicos americanos de dez anos vs os de dois anos caiu para apenas 10 pontos-base, o nível mais baixo desde 2007. Mantendo-se essa tendência, a curva de juros americana caminha rapidamente para o formato invertido, com os juros longos mais baixos que os curtos.
Alguns analistas já alertavam para o risco de uma recessão se aproximando ao observarem o comportamento do preço do petróleo nos últimos meses. Tem gente achando que vai sobrar petróleo e isso não acontece numa economia aquecida.
O Fed, por sua vez, antes afoito em subir os juros para conter pressões inflacionárias, começa a dar sinais de que vai conter seu ímpeto.
O pior é que uma guerra comercial com a China pode implicar em inflação mais alta nos EUA, mesmo com a economia frouxa, dada a relevância dos produtos importados na composição de preços por lá.
Apesar de tudo isso, a Bolsa brasileira até que segurou a onda nesta semana.
Se o tal rali de fim de ano é improvável, já que os gringos estão bastante ocupados por lá, 2019 tem cheiro bom.
O Felipe está animado com o Brasil, confiante na combinação de um governo reformista, juros historicamente baixos e capacidade ociosa no setor privado.
A receita para arrumar as coisas por aqui é conhecida, apesar dos desafios políticos. Sabemos o que precisa ser feito e, felizmente, o novo governo concorda. Não digo que será fácil, mas temos um mapa a seguir.
Quem não tem mapa são os países desenvolvidos. Tanto Estados Unidos como Europa enfrentam complexidades inéditas sem soluções previamente testadas.
Um baita desafio para o G7, o grupo dos sete países mais ricos.