Caio Mesquita: Ajudando o próximo
A menos de seis meses das eleições, a política começa a tomar mais espaço em nossas conversas e no noticiário.
Salvo alguma movimentação mais relevante, parece improvável que uma terceira via consiga ser expressiva o suficiente para desmontar a polarização entre os dois candidatos favoritos.
Além dos nossos interesses e preferências pessoais sobre quem será o nosso presidente nos próximos quatro anos, somos forçados a acompanhar o desenrolar da disputa eleitoral pelas óbvias implicações na condução da economia e, consequentemente, nos nossos investimentos.
Como poucas disputas presidenciais tiveram uma tão clara oposição entre esquerda e direita, cabe aqui uma reflexão sobre os respectivos perfis dos eleitores de cada lado do espectro político.
Isolando grupos com o mesmo nível socioeconômico, é de senso comum que jovens, na média, tendem a ser mais de esquerda, enquanto os mais velhos se alinham mais com a direita.
Quando substituímos os termos “esquerda” e “direita” por “progressistas” e “conservadores”, respectivamente, fica claro o porquê de os mais novos quererem alinhar suas preferências políticas com os primeiros.
Jovens consideram-se naturalmente mais abertos às novas ideias do que os velhos conservadores. As manifestações políticas em um recente festival internacional de música em São Paulo mostram o quão forte segue o apelo das propostas de esquerda para os mais novos.
Infelizmente, os jovens terminam abraçando o pacote completo apresentado pela esquerda. Em prol de maior liberdade de costumes, um anseio natural da juventude, compram um ideário econômico não só ultrapassado, mas também comprovadamente equivocado.
A justificativa para apoiar as propostas econômicas de esquerda baseia-se na impressão de que tais políticas seriam mais solidárias e inclusivas, contrastando com o individualismo do modelo clássico capitalista.
As pessoas de esquerda, então, pensam-se menos egoístas e mais empáticas do que os “caretões” de direita.
Sendo assim, seria natural pensar que essas mesmas pessoas seriam mais propensas a compartilhar seus bens e recursos financeiros, apoiando projetos sociais e filantrópicos.
No Brasil, não estou a par de evidências que comprovem tal hipótese. Nos Estados Unidos, porém, um estudo mostrou exatamente o contrário, ou seja, pessoas consideradas conservadoras compartilham mais seu patrimônio com causas sociais do que os progressistas.
Um levantamento realizado por professores de quatro universidades mostrou que os distritos eleitorais predominantemente vermelhos (republicanos) tendem a declarar contribuições de caridade mais altas do que os distritos azuis, dominados pelos democratas.
O estudo foi conduzido e publicado na revista acadêmica Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly. Os acadêmicos analisaram declarações de imposto de renda de uma seleção de distritos eleitorais em 2012 e 2013 e criaram um modelo para interpretar os dados.
A fim de se medir o efeito que a preferência partidária tem na filantropia, foram controladas certas variáveis demográficas.
A conclusão mostrou que quanto mais republicano o distrito, maior a propensão para doações filantrópicas.
Há um grande debate hoje sobre a questão da desigualdade e certamente esse ponto será frequentemente abordado por candidatos de esquerda durante as eleições.
Aqui concordo inteiramente com o que disse Pedro Bial em um episódio recente do podcast Mesa Pra Quatro.
Bial entende que a pobreza extrema seja um problema mais sério do que a desigualdade, especialmente em seus casos extremos. Como sociedade deveríamos empreender todos os esforços para minimizá-la.
A desigualdade econômica, entretanto, gera mais atenção do público e assim é utilizada frequentemente por políticos, em especial os de esquerda, como argumento para angariar votos.
Segundo Bial, e aqui reforço minha concordância, a questão do combate à desigualdade está calcada em um dos sentimentos mais potentes da humanidade, a inveja.
A inveja é tão forte quanto imobilizante, pois a sua manifestação parece ter um fim em si mesma. Quem inveja faz muito pouco além de ressentir-se.
Talvez isso explique por que alguns esquerdistas relegam para políticos (de esquerda) as ações distributivas que poderiam eles mesmos implementar.
Encerro compartilhando um dos melhores momentos da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher como debatedora, quando ela usou justamente essa obsessão da esquerda com a desigualdade para desmontar a lógica do socialismo.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,
Caio