Caio Mesquita: A desigualdade importa? No Chile, o índice de pobreza é o menor da AL
Por Caio Mesquita, CEO da Empiricus Research
Fechamos a semana mais curta lambendo as feridas de um mercado que aproveitou o #LulaLivre para queimar parte de gorduras recém-acumuladas.
Bolsa para baixo, dólar e juros para cima. De modo geral, ficamos um pouco mais pobres nesta semana, salvo que você esteja pessimista com as perspectivas para o Brasil de Paulo Guedes.
A propósito, seria interessante espiar as carteiras da turma da esquerda, tão indignada com as políticas “neoliberais” do atual governo. Será que estão todos posicionados de acordo com seus discursos? Se acreditam que a condução da política econômica é nociva ao país, devem estar todos defensivos ou até mesmo pessimistas em relação ao mercado, certo? Como todos nós, os socialistas também deveriam colocar o dinheiro deles onde a boca está (“put your money where your mouth is”).
Além da soltura do ex-presidente criminoso, o mercado passou a se preocupar com o desenrolar das manifestações no Chile e com uma eventual contaminação no aparente consenso reformista que temos por aqui.
Exemplo a ser seguido até há pouco, o Chile repentinamente tornou-se o símbolo das mazelas que políticas liberais acarretam para a harmonia social de um país.
A grande mídia comprou com gosto a narrativa de que o liberalismo econômico chileno exacerbou as desigualdades sociais por lá. As manifestações violentas seriam, então, resultado de uma população esmagada pela selvageria capitalista. Animados como há muito não se via, nossos políticos de esquerda querem esfregar na nossa cara que o exemplo chileno mostra que não há esperança fora de políticas sociais distributivas. E para que fazer ajuste fiscal se despesa é vida (como afirmou Dilma Rousseff)?
A narrativa de um Chile em crise serve bem aos inimigos da modernização do país. Paulo Guedes nunca escondeu o fato de ter o país sul-americano como um modelo a ser seguido. Ficou fácil usar o que está acontecendo por lá para por em dúvida o caminho que estamos trilhando. Não foi à toa que Lula invocou a revolta chilena como um exemplo a ser seguido.
Os dados desmentem a versão do fracasso chileno. O país tem os índices de pobreza mais baixos da América do Sul, a maior renda per capita e a maior taxa de crescimento acumulado das últimas décadas.
Basicamente, o Chile deveria estar jogando a Liga dos Campeões do desenvolvimento econômico, muito longe da Libertadores do populismo de esquerda que assola a nossa região.
Certamente, a sociedade chilena é desigual. Há pouca gente com muito dinheiro, e muitos que vivem com pouco. Assim como em absolutamente todos os países, em maior e menor grau. A Nova Zelândia é um país mais desigual do que o Paquistão quando se considera o índice de Gini.
Não digo que a desigualdade seja irrelevante quando pensamos numa sociedade, tampouco que não deve ser uma problema a ser atacado. Via de regra, porém, as soluções para tratar a questão passam invariavelmente por uma maior atuação do Estado e já sabemos como essa história termina.
Trinta anos depois da queda do Muro de Berlim, ainda precisamos lembrar que o lado oriental era muito menos desigual do que o ocidental, e mesmo assim ninguém fugia para lá.
Querem realmente reduzir a desigualdade? Foquem na preparação das novas gerações. Educação, educação e educação. O resto é retórica de esquerda que se alimenta do ressentimento de quem quer mais do que tem.
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