Caio Davidoff: O boom dos pagamentos digitais
Por Caio Davidoff, sócio fundador e CEO da Pagcom
Os avanços da tecnologia trouxeram uma nova realidade para consumidores e empreendedores: a revolução dos meios de pagamentos. Com um belo empurrão de mercados em desenvolvimento, como o Brasil, o mundo está assistindo uma explosão nos pagamentos digitais, de acordo com o World Payments Report 2018, realizado pela Capgemini e o BNP Paribas. Diante dessa circunstância, a conclusão do levantamento é que serão necessárias mais do que iniciativas lideradas pelos bancos para aumentar o novo cenário de pagamentos.
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Uma comunidade de serviços financeiros mais ampla, incluindo organizações do setor público, reguladores e terceiros, segundo o relatório, deverá estabelecer seu papel e operar em parceria com grandes usuários de pagamento eletrônico para garantir o desenvolvimento de um ecossistema equilibrado e sadio. A pesquisa antecipa ainda que os pagamentos eletrônicos deverão apresentar uma taxa de crescimento anual composta de 12,7% até 2021, depois de um aumento de pouco mais de 10% em 2015-16, um volume total de 482,6 bilhões de operações registradas. Mas será que veremos o Brasil acompanhar esta tendência?
Por aqui estamos apenas começando a sentir essa transformação e ainda há muito espaço para crescimento. Hoje, o Brasil é o 4º mercado global em número de transações eletrônicas com 29,1 bilhões. Em 2017, os brasileiros viram pela primeira vez o volume de transações via cartão (crédito, débito ou pré-pago) superar o de dinheiro em espécie. Com seus cartões, as pessoas movimentaram R$ 1,36 trilhão, enquanto realizaram saques de R$ 1,31 trilhão, de acordo com um levantamento da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito).
Dados da associação apontam também que, em 2017, o nosso país tinha 5 milhões de maquininhas instaladas, o que equivale em média a 24,7 processadores para cada mil habitantes. O Brasil já está no grupo de países como Suécia, com 26 maquininhas por mil habitantes, e França, com 22. Estamos também bem à frente de economias com o poder de compra semelhantes à nossa, como Rússia (com 12 processadores de pagamentos), México e África do Sul (com sete). Contudo, o ranking global é puxado por Austrália, com 39 maquininhas por mil habitantes, Itália, com 37, e Reino Unido, com 33.
Não há como negar: para quem vende ou pensa em vender pela internet, o cartão é fundamental. Ao todo, 80% das transações no comércio eletrônico são feitas com esse meio de pagamento atualmente. Mas as micro e pequenas empresas, que representam cerca de 98,5% do total de empresas privadas do Brasil e respondem por 27% do PIB, segundo o Sebrae, já estão despertando para o fato de que oferecer mais opções de meios de pagamento ajuda a fazer o negócio crescer.
Uma pesquisa feita pelo serviço de apoio a pequenas empresas revela que aquelas que oferecem ao cliente a possibilidade de pagar com cartão têm desempenho melhor em termos de vendas (aumento de 57%) e de faturamento (55%) em comparação com aquelas que ainda não aceitam esse meio de pagamento. Porém, não podemos esquecer que, apesar de todos os benefícios, ainda existem vulnerabilidades que precisam ser endereçadas pela comunidade de serviços financeiros. Ao longo dos últimos 12 meses, por exemplo, cerca de 7,8 milhões de brasileiros foram vítimas de fraudes, segundo pesquisa realizada pelo SPC Brasil. Desse total, lidera a lista de fraudes a clonagem de cartão de crédito, com 41%.
Mesmo com todos os desafios e obstáculos, o mercado de meios de pagamento segue em ritmo de crescimento, e já se deu conta do seu potencial, passando a oferecer inúmeros produtos e serviços para microempresas e empresas de pequeno porte. O valor transacionado em cartões de crédito, débito e pré-pagos só no primeiro semestre deste ano reflete essa mudança: registrou aumento de quase 14% em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando quase R$ 720 bilhões em 8,8 bilhões de transações, de acordo com a PAGOS-Associação de Gestão de Pagamentos Eletrônicos.
O crescimento do mercado está diretamente ligado às mais diversas inovações em meios de pagamentos que surgem em todo o mundo, a todo o instante. Ganham as empresas, que sabem se reinventar para oferecer soluções ainda mais eficientes. E ganham principalmente os consumidores, cada vez mais exigentes, a quem cabe decidir qual o meio mais adequado para tornar a experiência de compra mais simples, rápida e segura, em qualquer ambiente.