Caio Davidoff: A era dos pagamentos invisíveis
Por Caio Davidoff – Fundador e CEO da Pagcom
É fato que o consumidor deseja pensar cada vez menos no momento do pagamento e poder focar cada vez mais na experiência. Não é mera coincidência que grandes marcas envolvidas no universo da tecnologia estão buscando simplificar a jornada do consumidor e integrar todas as soluções necessárias para tornar o pagamento praticamente invisível.
“A lógica de pagamentos que as novas tecnologias aplicam não diz respeito apenas ao futuro, mas é uma lógica que torna a vida mais fácil para nós”, como disse o sociólogo italiano Giuseppe Roma, que defende que “o pagamento invisível ganha a relação de confiança” com o consumidor.
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Essa estratégia segue uma tendência global que irá determinar o futuro do varejo e do e-commerce. Um estudo da Juniper Research identificou uma série de estratégias para provedores de meios de pagamentos tanto no mercado off-line como no espaço online.
A pesquisa constatou que os gastos com varejo devem aumentar US$ 6 trilhões globalmente entre 2018 e 2023 (levando o gasto total a US$ 30 trilhões), com o crescimento impulsionado por uma combinação de mecanismos de pagamentos alternativos e gastos on-line.
Segundo o estudo, “Estratégias para Provedores de Pagamento: Oportunidades, Riscos e Concorrência 2019-2023”, reduzir o atrito no check-out continua sendo um obstáculo fundamental, com altas taxas de abandono de carrinho on-line.
De acordo com o levantamento, as taxas de abandono de carrinho podem ser reduzidas por uma combinação de medidas, incluindo a implementação de soluções de pagamento em cartão, com um clique, e garantindo que tanto as moedas de pagamentos locais quanto os procedimentos de check-out sejam oferecidos.
O World Payment Report de 2018, realizado pela Capgemini e o banco BNP Paribas, mostra que movimentações non-cash aumentaram 10,1% entre 2015 e 2016 e devem ter um crescimento médio anual de 12,7% até 2021.
Entretanto, os tradicionais cartões de plástico também podem perder espaço nos próximos anos. A consolidação de soluções como os cartões virtuais faz com que os “pagamentos invisíveis” sejam uma realidade cada vez maior entre os usuários.
Em paralelo, grandes empresas já começam a se posicionar neste sentido. Recentemente, o Instagram anunciou seu sistema de checkout, ao alcance do usuário por meio de apenas um clique dentro de sua plataforma, para fechar uma compra. A solução, contudo, só está disponível para algumas marcas por enquanto, como Adidas, Nike, Michale Kors, Prada, Zara, entre outras.
A Amazon também está tentando melhorar a experiência de pagamento na loja por meio do Amazon Go, onde os consumidores não precisam fazer o check-out da maneira tradicional, mas são automaticamente cobrados pelos produtos selecionados e não retornados às prateleiras usando sua tecnologia de retirada.
A experiência do usuário está na base do desenvolvimento de novos produtos e serviços, e para esse caminho não há retorno. O avanço da tecnologia inverteu o poder de decisão nas instituições financeiras.
Se antes o consumidor recebia passivamente as opções de pagamentos existentes, hoje ele valoriza empresas que levam em conta suas opiniões e interesses. As principais soluções desenvolvidas são aquelas que colocam a experiência do cliente na base do planejamento e que consegue, assim, resolver problemas reais das pessoas.
Ainda assim, não estamos tão perto quanto sonhamos dos pagamentos invisíveis. A expectativa no Brasil é de que os pagamentos em cartões de débito, crédito e pré-pago alcancem R$ 1,8 trilhão até dezembro deste ano, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), que estima que o setor de cartões vai crescer 16% em 2019.
Por aqui, só em 2018, os meios eletrônicos de pagamento registraram uma participação de 38,3% no consumo das famílias. Comparativamente, na Coréia do Sul, no Reino Unido, na Austrália e nos Estados Unidos, o nível é de, respectivamente, 70%, 65%, 55% e 45%.
Uma outra pesquisa feita pelo o Datafolha, a pedido da Abecs, revela ainda que 95% dos clientes usam cartões de crédito todo mês e 30% diariamente. Estamos a caminho de índices de das nações mais desenvolvidas, mas ainda há muito a caminhar.