Café: Preços disparam enquanto exportações caem; especialista diz que tarifas já inviabilizam negócios com produtores dos EUA

As exportações brasileiras de café recuaram em agosto, mas os preços da commodity dispararam diante de estoques globais apertados e incertezas climáticas.
De acordo com Guilherme Morya, analista do Rabobank, as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos já inviabilizam negócios e devem redesenhar o fluxo global do grão.
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Em agosto, o Brasil exportou 3,1 milhões de sacas de café (60kg, no padrão do mercado), uma queda de 17,5% em relação ao mesmo mês de 2024, mas alta de 14,3% frente a julho, segundo o relatório mensal do Rabobank.
O mercado americano, tradicionalmente o principal destino do café brasileiro, perdeu a liderança para a Alemanha. As exportações para os EUA caíram 46% em relação ao ano passado e 26% frente a julho, somando 301 mil sacas.
Segundo Morya, importadores dos EUA afirmam que a tarifa de 50% sobre o café brasileiro “já inviabiliza os negócios”. Com isso, o país passou a buscar alternativas mais competitivas para o café arábica, como Colômbia, Peru e Costa Rica.
“No curto prazo, eles ainda contam com estoques internos, mas a partir de novembro e dezembro ficará mais claro se haverá uma substituição definitiva do café brasileiro”, afirma.
Preços do café disparam
No mercado interno, os preços do arábica e do conilon subiram 31% e 32% desde agosto. O movimento reflete a menor safra brasileira, estimada em 62,8 milhões de sacas neste ano (38,1 milhões de arábica e 24,7 milhões de conilon), além da pressão das tarifas e da queda nos estoques certificados da bolsa de Nova York.
As condições climáticas também entram no radar. Apesar da colheita 2025 estar praticamente concluída, geadas no Cerrado Mineiro já levantaram dúvidas sobre o potencial da safra de 2026.
“A florada de outubro e novembro será determinante. Se as chuvas vierem de forma consistente, os preços podem ceder. Mas se houver frustrações, a volatilidade deve se intensificar”, avalia o analista.
Morya ressalta que existe uma mobilização do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e outras entidades para tentar renegociar a tarifa de 50% imposta pelos EUA.
Diante da incerteza, alguns torrefadores americanos têm recorrido aos chamados bonded warehouses — armazéns alfandegados — onde o café pode ser estocado sem o pagamento imediato da tarifa.
“É um paliativo. Se internalizar hoje, paga a tarifa cheia. Mas se houver uma renegociação, já há café nos EUA, evitando a espera de 15 a 20 dias do transporte”, explica o analista
Para os próximos meses, o especialista destaca que o mercado segue de olho no Brasil, com as chuvas e a florada, e no Vietnã, segundo maior produtor mundial, que inicia a colheita no fim do ano. Se as notícias forem positivas para as safras, o preço pode cair.
Com isso, se os preços seguirem elevados, o consumidor final pode ser penalizado. “O cafezinho corre risco de voltar a subir para o consumidor final, uma vez que o preço voltou a acelerar no atacado e pode ser repassado”, diz Morya.
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