Cade pode tornar fusão Kroton/Estácio um bode expiatório
A análise da fusão entre a Kroton e a Estácio pode estar sofrendo uma influência política indireta – em uma espécie de bode expiatório – como resultado dos últimos casos de corrupção revelados e que mostraram tentativas de influenciar as decisões do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Parte do mercado já começa a considerar a rejeição total do negócio, ao contrário de uma aprovação com remédios amargos.
Segundo o Estadão, há “chances reais” de reprovação no julgamento marcado para a próxima quarta-feira, segundo fontes que acompanham as negociações, por não estar chegando a um acordo com as partes. A avaliação é que, após o órgão ter sido citado na delação de executivos da JBS, o conselho quer passar uma mensagem dura.
O analista Lucio Aldworth do Citi avalia que a rejeição seria uma “surpresa”. O Conselho rejeitou apenas 0,4% das operações pretendidas nos últimos quatro anos.
“A última informação que temos sugere uma alta probabilidade de aprovação do negócio. Entretanto, o recente escândalo de corrupção revelado, pode sugerir uma abordagem mais conservadora sobre a transação, dada a alta exposição à mídia e tentativa de mostrar independência e ingerência para a sociedade”, diz ele em um relatório enviado a clientes.
Em contrapartida, a recente decisão do MEC em relação aos cursos de ensino a distância. Os novos critérios estabelecem que as instituições classificadas com 4 ou 5 em padrões de qualidade do MEC (sendo 5 o máximo) poderão abrir até 250 centros por ano. Para o Citi, isso apoiaria um resultado antitruste positivo para a fusão – de forma técnica, pois promove a concorrência no Brasil.
Cenários
Para o Santander, a Ser Educacional é a mais bem posicionada para surfar ambos os cenários de aprovação ou rejeição da fusão. “Assim, as perspectivas de (i) crescimento orgânico, (ii) potencial de fusões e aquisições e (iii) expansão no segmento de Ensino a Distância fazem de SEER3 a melhor opção dentro do setor de educação”, destaca o analista Bruno Giardino.
Segundo o Citi, no caso de o negócio não ir para frente, a Estácio teria mais a perder do que a Kroton. “Calculamos que a Estácio pode potencialmente negociar em R$ 14,10 (-6% de desvalorização) se o negócio for rejeitado, embora reconheçamos que os componentes técnicos da arbitragem KROT3/ESTC3 podem impor maiores pressões de preços”, ressalta Aldworth.