Busca por retorno abre caminho para emissões de dívida na América Latina
A busca por rendimento abre caminho para uma onda de ofertas de títulos da América Latina, que incluem até emissões de empresas de alto risco em mercados internacionais.
A fabricante de cimento mexicana Cemex vendeu US$ 1 bilhão em títulos nesta semana, enquanto a República Dominicana, a BRF (BRFS3) e a PetroRio (PRIO3) devem testar a demanda com ofertas dos chamados títulos junk, ou de grau especulativo.
A América Latina segue os passos de outros mercados emergentes que venderam quantias recordes de dívida neste ano em meio à injeção de liquidez de bancos centrais para compensar o impacto da pandemia.
O aumento das emissões destaca a forte demanda de investidores, disse Guido Chamorro, corresponsável de dívida em moeda forte de mercados emergentes da Pictet Asset Management, em Londres.
“A caça aos rendimentos persiste”, disse Chamorro. “Para a onda de nomes de alto rendimento que não tiveram oportunidade de se financiar anteriormente, pois foram excluídos por emissores com grau de investimento, agora é a chance deles.”
Outras ofertas de dívida nos últimos dias incluem um título sustentável emitido pelo governo mexicano, um título verde do Consorcio Transmantaro do Peru e US$ 750 milhões em títulos vendidos pelo banco de desenvolvimento latino-americano Corporación Andina de Fomento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A PetroRio será uma das empresas com classificação mais baixa até agora a testar os mercados quando lançar a oferta de US$ 450 milhões em notas representativas. Os títulos são classificados como B2 e B+ pela Moody’s Investors Service e S&P Global Ratings, respectivamente.
A Lucror Analytics disse que a empresa é de “alto risco”, citando a pequena base de ativos e produção que está concentrada em três campos de petróleo. Ainda assim, a Lucror disse que vê valor justo para os títulos em oferta com cupom na faixa de 9%.
Na quarta-feira, a BRF lançou a venda de US$ 500 milhões em títulos de 30 anos com rendimento de 5,875%. A República Dominicana deve acessar o mercado após uma série de teleconferências com investidores que começaram nesta semana.
Ambiente positivo
Emissores aproveitam os termos atraentes nos mercados em meio às taxas de juros baixas e recompras de dívida corporativa, deixando investidores com caixa, disse André Silva, diretor de mercado de capitais de dívida da América Latina do BNP Paribas.
“É um ambiente muito positivo para os emissores”, afirmou.
No entanto, a onda de emissões da região não deve durar. Silva espera que o ritmo diminua em meados de outubro com a proximidade das eleições nos EUA, o que pode causar volatilidade, e em meio à incerteza sobre a propagação da Covid-19.
“O motivo pelo qual estamos vendo tantos anúncios agora é que todos estão tentando participar antes do ruído do mercado”, disse. “Existem alguns riscos à frente.”