Busca por rendimento oferece pausa para emergentes endividados
Países de mercados emergentes têm se apoiado neste ano em dívidas de curto prazo em moeda local em meio à busca de investidores por segurança na pandemia. Agora, animados pela eleição de Joe Biden e sinais de descoberta de uma vacina, títulos com prazos mais longos atraem compradores novamente.
As eleições presidenciais nos Estados Unidos retomaram a procura por rendimento, garantindo o espaço para respirar tão necessário a governos de economias em desenvolvimento. Esses países possuem o equivalente a cerca de US$ 3 trilhões em dívida local com vencimento no próximo ano, após uma onda de emissões de títulos de curto prazo que foram comprados principalmente por bancos locais na ausência de investidores internacionais.
O apetite de investidores por títulos de prazo mais longo aliviaria a crise fiscal de mercados emergentes, ao destinarem fundos para o combate de outra onda de casos de coronavírus. Brasil, Turquia e México, que precisam resgatar mais de 50% da dívida em aberto nos próximos três anos, enfrentam o maior desafio de refinanciamento. Emissores asiáticos com notas de crédito mais altas podem conseguir rolar a dívida com mais facilidade, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“O recente rali cambial de emergentes trouxe fluxos de volta para mercados locais e isso deve aumentar os juros para títulos de duração”, disse Christian Wietoska, estrategista do Deutsche Bank, em Londres. “Os investidores querem rendimentos altos e, no momento, as curvas ainda estão muito inclinadas, o que torna os investimentos extremamente atrativos para estrangeiros no longo prazo.”
A demanda por títulos de curto prazo resultou em curvas de juros de títulos mais inclinadas para dívidas de alta classificação da Coreia do Sul e da Tailândia, após cortes das taxas de seus bancos centrais.
No Brasil, que tem grau especulativo, a curva se achatou, pois os juros de curto prazo subiram mais rápido do que os de longo prazo em meio à expansão dos gastos com estímulos. O vencimento médio de títulos públicos locais vendidos em leilão foi de 2,36 anos em agosto comparado a 4,95 anos um ano antes.
“Os riscos de rolagem seriam mais preocupantes para países com classificação inferior, como Brasil e Turquia”, disse Duncan Tan, estrategista em Cingapura do DBS Group. “Para países com notas mais altas e baixa dependência de financiamento externo, como Coreia do Sul e Tailândia, não projeto nenhuma dificuldade no futuro em termos de rolagem de um ‘quantum’ maior da dívida de curto prazo.”
Investidores parecem favorecer cada vez mais títulos públicos de longo prazo em moeda local com a expectativa de que um governo Biden com um Congresso dividido resulte em menos estímulo fiscal, juros mais baixos por mais tempo e um período prolongado de fraqueza do dólar que beneficie mercados emergentes com menores custos do serviço da dívida.
Títulos com vencimento de um ano ou menos registraram baixa de 1,4% em dólar no mês passado, enquanto papéis com vencimento em pelo menos cinco anos ofereceram retorno de cerca de 2%, de acordo com o Índice Bloomberg Barclays. Os títulos em moeda local subiram mais de 4% desde janeiro, aproximando-se dos retornos da dívida em dólar no mesmo período, segundo os índices.