Agronegócio

Bunge-BP: fusão em cenário de crise e futuro ainda apenas no papel

23 jul 2019, 17:11 - atualizado em 23 jul 2019, 17:25
Aumentar a produtividade da cana é um dos desafios da nova empresa (Imagem: ASCANA)

A Bunge saiu de um problema, conseguindo um sócio quando até bem pouco esperava um comprador para seus ativos, e a BP resolveu outro, vindo a ter maior participação no mercado de renováveis e tentando tirar de si a pressão ambiental sofrida, especialmente no seu berço europeu, por sua participação global no petróleo. A join venture entre ambas, que traz ao mercado sucroenergético um novo grau concentrador, surpreendeu pelo momento que o setor vive e pela aposta em um futuro que ainda está só papel.

A situação de desequilíbrio estrutural, carregado há anos pela expansão e alavancagem na primeira década dos anos 2000, depois pelo engessamento dos preços dos combustíveis com Dilma Rousseff, e agora com a Índia deprimindo os preços com seus subsídios, deixaram a atividade com poucas empresas sustentáveis na parte agrícola. O calcanhar de Aquiles hoje, onde prevalece a baixa produtividade.

Daí advindo, por exemplo, a considerável exposição da Bunge, com 8 usinas, que o seu diretor-presidente, Gregory Heckman, comemorou como solucionada ao anunciar a fusão ontem. A BP vai dar US$ 775 milhões para a trading e processadora saldar a dívida, e as duas vão dividir a gestão e as ações, somando 11 unidades, 32 milhões de toneladas de cana, 1,5 bilhão de litros de etanol e 1,1 milhão de toneladas de açúcar, baseados nos dados de 2018.

Diante dessa situação presente, a ponte para futuro surpreende positivamente também porque há uma aposta no RenovaBio, que Alexandre Figliolino, consultor da MB Agro, pensa que só vai ter resultados concretos a partir de 2023/2024, projetando ainda se os “CBios vão funcionar e qual vai ser o impacto econômico”.

Esses papéis é que moldarão o desempenho do programa e sua real evolução em termos de dobrar a produção e consumo do etanol até 2030. As processadoras os negociarão com as distribuidoras em volume e valor de acordo com o grau de descarbonização medido nos processos produtivos. Os CBios depois serão negociados na B3.

“O RenovaBio é inteligente, mas temos que esperar”, avalia Figliolino, ex-Itaú BBA.  Mas ele acredita ainda que a fusão entre a petroleira e a Bunge pode começar a ganhar antes se houver uma recuperação gradual do setor agrícola em termos de recuperação de produtividade via renovação de canaviais, “como já tivemos no passado”.

Em relação à sinergia, as operações dos ativos estão entre as que mais chama a atenção no total de unidades, ressalvando, de acordo com o consultor, três unidades da Bunge (Mato Grosso do Sul, Tocantins e Norte).

A concentração de mercado vai deixar a nova empresa combinada disputando o segundo lugar com a multinacional Biosev, de outra trading na origem, a Louis Dreyfus, com a Raízen (Cosan-Shell) mantendo pouco mais que dobro em moagem de cana, em torno dos 65 milhões de toneladas.

Longe de chegar perto do que foi o passado que abriu a crise do setor, com a consolidação de vários grupos e a chegada das multinacionais, também de certa forma pode ser um começo de “reorganização do setor”, com menos participantes no mercado, analisa Alexandre Figliolino.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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