BTG cita impactos para ações após desvalorização de 119% para moeda da Argentina; confira
O Governo da Argentina, liderado pelo ultraliberal Javier Milei, anunciou a decisão de desvalorizar a moeda local da Argentina em 119%, sendo essa a primeira medida relevante do governo recém-eleito no mercado cambial.
Segundo o BTG Pactual, desvalorização cambial, que esteve sob controle nos últimos anos, já era principal preocupação do banco.
Outras medidas anunciadas incluem o afrouxamento de restrições de importação e cortes em determinados subsídios.
Empresas que vendem para o mercado interno terão impacto negativo
De acordo com o banco, as empresas que vender para o mercado interno terão um impacto negativo, já que as empresas que operam na Argentina e reportam resultados em dólar ou real têm convertido seus resultados a partir de um peso mais “favorável”, (isto é, peso oficial 3x mais forte que o peso paralelo, o “blue dollar”), embora muitas vezes fosse impossível sacar o dinheiro da Argentina nessas mesmas condições.
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Uma desvalorização abrupta do peso argentino reduz este ganho de conversão e possivelmente leva a efeitos secundários, como a aceleração da taxa de inflação doméstica, que deverá impactar a renda disponível das famílias e, consequentemente, os volumes de vendas (sem contar impactos nos custos das empresas).
Impactos negativos para as ações
Dessa forma, este anúncio pode ter uma implicação contabilística adicional (negativa) para algumas empresas.
Desde a adoção da contabilização para economias em hiperinflação, as regras do IFRS exigem que os resultados reportados incluam a atualização monetária dos resultados acumulados no ano antes de convertê-los à taxa de câmbio de fechamento do período.
Espera-se, assim, que os resultados do 4T23 reflitam a atualização dos resultados dos trimestres anteriores com base na inflação acumulada.
Apesar disso, segundo o banco, como estamos próximos do final do ano e é improvável que a inflação reflita uma desvalorização cambial tão abrupta, quando esses resultados forem divulgados, o impacto negativo da conversão baseada em um peso argentino mais fraco provavelmente será muito maior do que a atualização dos resultados acumulados no ano com base na taxa de inflação oficial.
Assim, baseado na desvalorização cambial, o BTG enxerga impactos de -6% no Ebitda de Ambev (ABEV3) e Raízen (RAIZ4).
Ações que podem ganhar com o cenário
Por outro lado, na visão do BTG, empresas como a Minerva (BEEF3), que opera na Argentina vendendo para mercados externos, poderão ver um cenário melhor à frente.
O peso argentino mais fraco deverá naturalmente significar um mercado de exportação mais competitivo e rentável para grãos e carne bovina.
Ainda assim, o banco não sabe o impacto exato do novo câmbio, pois diversos produtos têm recebido taxas de câmbio diferentes quando exportados.
Por fim, vale notar, para além do câmbio, que os impostos de exportação sobre grãos (33% no caso da soja, 12% para outros) aparentemente ainda seguem em vigor, ainda que o BTG enxergue uma redução pelo governo ao longo do tempo.