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Bruno Mérola: Se7en – os sete pecados capitais em rankings de fundos

10 jan 2020, 11:09 - atualizado em 10 jan 2020, 11:09
Veja abaixo a lista dos sete pecados capitais na elaboração da maioria dos rankings de fundos de investimento, segundo Bruno Mérola

No último domingo, fãs de cinema do mundo inteiro conheceram os vencedores do Globo de Ouro 2020, inaugurando oficialmente a temporada de premiações em Hollywood.

A partir de agora, inicia-se uma contagem regressiva de 30 dias, ao longo dos quais mais de uma dezena de eventos da indústria elegerão seus favoritos de cada categoria, até a noite do Oscar, em que sairão consagrados os melhores filmes do ano.

Conscientes disso ou não, acabamos considerando como um selo de qualidade para uma obra cinematográfica o fato de ela ter sido indicado ao Oscar ou, melhor ainda, ter, de fato, levado para casa a estatueta dourada.

Pessoalmente, reconheço esse fenômeno quando, após assistir a um dos indicados, tenho a tendência claramente viesada de avaliá-lo com uma nota melhor do que o faria se ele não tivesse sido reconhecido pelos 8 mil eleitores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Afinal, quem sou eu para dar nota muito baixa a um filme aplaudido de pé por ela ou em Cannes?

Iludidos pelo nosso próprio senso de justiça ao avaliar uma obra, é difícil manter separados, como água e óleo, nosso julgamento totalmente imparcial (se ele de fato existir, em sua essência mais pura) e nosso ponto de vista contaminado pelo caldeirão de opiniões das outras pessoas, qualificadas ou não.

Não há como negar: somos atraídos e impactados por listas, seleções e rankings.

E não é por acaso que a internet se tornou celeiro para matérias caça-cliques (do inglês, “clickbaits”) chamando nossa atenção para os 15 lugares mais baratos para se viajar em 2020, as 10 melhores séries que estreiam neste mês na Netflix ou 5 dicas de presente de aniversário para seu chefe.

Direto do tapete vermelho para o Leblon e a Faria Lima, janeiro é o mês de proliferação dos rankings de fundos de investimento, em geral, elaborados por jornais e sites especializados de finanças.

Porém, diferentemente dos vencedores do Oscar, eleitos por critérios subjetivos — mesmo com as críticas ao perfil homogêneo dos membros da Academia —, aqui, os fundos são avaliados principalmente por critérios quantitativos, destacadamente, o desempenho no último ano.

Sendo uma métrica pragmática, que considera dinheiro no seu bolso, o que pode haver de errado com a lista dos ganhadores incontestáveis de dinheiro em cada categoria?

Eu sei, entendo que precisamos nos agarrar a algo concreto para tomar uma decisão de investimento e os rankings são uma forma simples de absorver a informação. No entanto, tem muita comparação injusta por aí e é meu dever colocar os pingos nos is.

Pensando nisso, decidi compartilhar aqueles que considero serem os sete pecados capitais na elaboração da maioria dos rankings de fundos de investimento:

1. “Ford vs Ferrari”: comparar fundos que seguem estratégias diferentes.

O melhor exemplo é a categoria de fundos long biased: sem uma classificação oficial dada pela Anbima, esses veículos podem ser encontrados tanto em rankings de multimercados como de fundos de ações, quando deveriam apenas ser comparados entre si. Para dificultar, nem sempre eles têm “long biased” ou algo do tipo no nome.

Há listas classificatórias que não discriminam fundos que só atuam no exterior e há também outras que incluem na comparação de multimercados aqueles que só compram títulos de crédito privado.

Para minimizar esses erros, é importante conhecer muito bem cada gestor e os detalhes de suas respectivas estratégias.

2. “Assunto de Família”: incluir fundos exclusivos de um mesmo grupo familiar ou com apenas um cotista.

Mercados
Segundo o colunista, deveriam ser excluídos de um ranking para o varejo os fundos oferecidos apenas a clientes institucionais, como fundações e fundos de pensão (Imagem: Pixabay)

Se você se deparar com fundos com nomes de cidades do sul da Itália, palavras em latim ou combinações da primeira sílaba de vários nomes próprios, pode estar diante de veículos exclusivos, em que os únicos cotistas são, em geral, clientes multimilionários da mesma família ou sócios da mesma empresa.

É muito comum também que os nomes deles tenham longos sufixos como “Multimercado Crédito Privado Investimento no Exterior”.

No  site da própria CVM, ao pesquisar um fundo, é possível encontrar a quantidade e o tipo de cotistas na seção Perfil Mensal.

3. “VIPs”: incluir fundos oferecidos apenas a clientes multimilionários, atendidos por private banks, family offices e gestoras de fortunas.

Em geral mais fáceis de reconhecer pelas siglas “PB” (private banking) e “PVT” (ou “Private”), esses veículos podem ser versões exclusivas de fundos renomados do mercado (com taxas mais baixas, por exemplo) ou mesmo fundos de fundos (FoFs) criados pela própria gestora de fortunas para seus clientes abastados.

Também deveriam ser excluídos de um ranking para o varejo os fundos oferecidos apenas a clientes institucionais, como fundações e fundos de pensão.

4. “Quero Ser John Malkovich”: incluir mais de uma versão do mesmo fundo.

Se um dos melhores multimercados no ano passado foi o Verde e existem dele dezenas de fundos espelhos (que investem pelo menos 95% do seu patrimônio no veículo original), será que todos eles deveriam aparecer no ranking dos melhores? Com certeza, não.

A não ser que existam diferenças entre os custos ou no regulamento, cada estratégia só deve aparecer apenas uma vez.

5. “Quero Ser Grande”: considerar fundos pequenos demais na amostra.

Fundos muito pequenos — com menos de R$ 50 milhões, por exemplo — terão maior facilidade em operar mercados com baixa liquidez. Se isso é parte essencial de sua estratégia, a comparação com outros mais parrudos de alguns bilhões de reais se torna injusta.

6. “Adaptação”: considerar os mesmos critérios para todas as classes de fundos.

Um ranking de fundos de crédito privado deve ter filtros e critérios bem diferentes de outro de fundos de small caps, que invistam em ações de menor porte.

Além disso, os intervalos temporais também devem ser adaptados. Se o investimento é para o longo prazo, por que avaliar o desempenho de apenas um ano?

Na Empiricus, por exemplo, avaliamos períodos a partir de dois anos para multimercados e a partir de três anos para fundos de ações.

7. “A Grande Aposta”: ignorar os riscos ao comparar fundos.

Risco oculto também é risco, geralmente até mais perigoso do que o aparente, destaca Bruno Mérola (Imagem: Pixabay)

Enquanto o desempenho é o resultado (quanto), o risco é o caminho percorrido (como). Há muita diferença entre um fundo que rendeu 100% no ano, mas chegou a cair 50% durante um mês, e outro que teve o mesmo retorno sem quedas relevantes.

Da mesma maneira, um fundo de crédito privado com empresas muito endividadas pode ter uma performance muito acima de outro que só compra títulos classificados como AAA. Risco oculto também é risco, geralmente até mais perigoso do que o aparente, por aumentar a confiança do investidor.

Com essas sete diretrizes, espero te ajudar a ter um olhar mais crítico na próxima vez que um amigo ou familiar quiser sua opinião de investidor diligente sobre os fundos do momento.

Falando nos primeiros do ranking, compartilhamos, em publicação recente para os assinantes da série Os Melhores Fundos de Investimentoo que teria acontecido com alguém que investisse, no início de cada ano, todo o seu patrimônio no fundo multimercado que havia obtido o maior retorno no ano anterior.

Não quero dar nenhum spoiler sobre o resultado, mas… você gosta de filmes de terror?

Um abraço,

Bruno Mérola.

Especialista em Fundos de Investimento, CFA, CFP®, CGA
Engenheiro com especialização em finanças, passou quase cinco anos no Itaú Unibanco. No Itaú Private Bank, fazia recomendações de investimentos para os Ultra High-Net-Worth Individuals (UHNWI) - em bom português: os clientes mais ricos e exigentes do Brasil. Atualmente, é o responsável da Empiricus pela série Os Melhores Fundos de Investimento.
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Engenheiro com especialização em finanças, passou quase cinco anos no Itaú Unibanco. No Itaú Private Bank, fazia recomendações de investimentos para os Ultra High-Net-Worth Individuals (UHNWI) - em bom português: os clientes mais ricos e exigentes do Brasil. Atualmente, é o responsável da Empiricus pela série Os Melhores Fundos de Investimento.
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